“As Pupilas do Senhor Reitor”, de Júlio Dinis

Primeiro publicadas em folhetim, no Jornal do Porto, as Pupilas de Júlio Dinis tiveram um sucesso tremendo quando saíram em livro, em 1887. O que teria de tão especial esta história passada numa aldeia minhota para se afirmar tão rapidamente como um romance essencial da literatura portuguesa? É o que ficamos a saber neste documentário.

Na segunda metade do século XIX, quando este livro foi escrito, Portugal despontava para a modernidade. A literatura vivia anos dourados com Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Almeida Garrett e Alexandre Herculano. Mas nenhum destes escritores tinha até então conseguido retratar fielmente o país rural que existia.

Ao contrário dos valores do romantismo, Júlio Dinis pendia para o realismo das novelas inglesas. O jovem médico queria menos imaginação e mais verdade nas suas narrativas, personagens com dimensão psicológica, uma linguagem simples que transmitisse a veracidade desse mundo que começou a observar quando, doente, se recolher em Ovar a tomar os bons ares do campo.

Museu Júlio Dinis: Uma Casa Ovarense
Veja Também

Museu Júlio Dinis: Uma Casa Ovarense

Os costumes da pequena terra, as conversas que ali ouvia, inspiraram Júlio Dinis a escrever “As Pupilas do Senhor Reitor”, com ação passada no cenário bucólico da uma aldeia do Minho, onde a harmonia rural estremecerá por causa de um drama amoroso. Mas não é apenas uma simples história de amor que o autor nos quer contar: os sentimentos de Margarida, Clara, Pedro e Daniel servem para denunciar o moralismo e a hipocrisia vigentes, que o padre reitor, responsável pela educação das duas órfãs, condena de forma veemente. Este tom ético e pedagógico perpassa a obra dinisiana, porque os livros, como o próprio escreveu, servem «para educarem, civilizarem e doutrinarem as massas».

À semelhança do final feliz de “As Pupilas do Senhor Reitor”, Júlio Dinis (1839-1871) tem uma visão otimista do futuro de Portugal, onde acredita estar em construção uma sociedade justa e estável. Retrato fiel de uma época, este romance – para uns, obra ligeira; para outros, como Alexandre Herculano, o primeiro romance do século XIX – é, seguramente, um clássico da literatura portuguesa.

“Eurico, o Presbítero”, de Alexandre Herculano
Veja Também

“Eurico, o Presbítero”, de Alexandre Herculano

“Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco
Veja Também

“Amor de Perdição”, de Camilo Castelo Branco

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Grandes Livros
  • Tipologia: Documentário
  • Produção: Companhia de Ideias
  • Ano: 2012