A abdicação de D. Afonso VI

Em 23 de novembro de 1667 D. Afonso VI não abdicou de livre vontade, foi compelido a fazê-lo na sequência de um golpe palaciano destinado a afastá-lo de poder e a colocar no trono o irmão, o futuro D. Pedro II. Foi um episódio turbulento na história de Portugal, e o desfecho de uma crise no interior da corte portuguesa, entre dois partidos antagónicos que envolviam o Conde de Castelo Melhor, Primeiro Ministro do rei, e o príncipe D. Pedro.

Por trás estava o antagonismo dos interesses da França e da Inglaterra na guerra da Restauração. A crise fora desencadeada pelo casamento de D. Afonso VI, em 1666, com a princesa Maria Francisca de Sabóia, e assumiu foros de escândalo público quando esta declarou que o rei era incapaz de consumar o casamento.

Em outubro a guerra civil estava iminente. A 20 de novembro, a rainha saiu do Paço e refugiou-se num convento, ao mesmo tempo que uma armada francesa fundeava no Tejo para proteger e, eventualmente, resgatar a rainha.

D. Pedro tomou então a iniciativa de reunir um grupo de fiéis, dirigiu-se ao paço e prendeu o rei, que assinou uma renúncia ao poder.

 

  • Isso não é uma contradição com o cognome de «o Vitorioso» atribuído a D. Afonso VI?

O epíteto de “O Vitorioso” foi atribuído a D. Afonso VI porque foi no seu reinado que Portugal alcançou uma série de vitórias militares sobre os espanhóis, que tentaram por várias vezes invadir Portugal sem sucesso. As vitórias militares permitiram a sobrevivência da Restauração e a paz foi assinada em 1668.

O sucesso militar destes anos contrasta, porém, com o ambiente de crise política e de conspiração que se vivia na corte. Na verdade, D. Afonso não possuía capacidades para reinar. Sofrera uma “febre maligna” em criança (possivelmente uma meningoencefalite) que o deixara com deficiência mental e física.

O primogénito, príncipe D. Teodósio, que fora educado para reinar, morrera em 1653. D. Afonso VI foi jurado rei após a morte de D. João IV, em 1656, mas a rainha D. Luísa de Gusmão ficou como regente. Em 1662, um grupo de nobres convenceu D. Afonso VI a tomar as rédeas do poder, com um golpe palaciano que afastou a rainha da regência. A figura mais importante durante estes anos foi a do Conde de Castelo Melhor, que governou o país, precisamente, até à crise de 1667.

 

  • O que aconteceu ao rei, depois de ter sido deposto?

Foi exilado para a Terceira durante algum tempo, e em 1674 regressou ao reino, tendo ficado prisioneiro no paço de Sintra, onde morreu em 1683.

O príncipe D. Pedro ficou como regente do reino até à sua morte, quando subiu ao trono como D. Pedro II. Havia casado com a cunhada logo em 1668, após a anulação do casamento com D. Afonso VI pelo papa.

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Ficha Técnica

  • Título: Os Dias da História - Abdicação de D. Afonso VI
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paulo Sousa Pinto
  • Produção: Antena 2
  • Ano: 2016
  • D. Afonso VI aprisionado no Palácio de Sintra: Alfredo Roque Gameiro