A crise de 1383-1385

Quando D. Fernando morreu, começou o primeiro grande teste à independência de Portugal. Sem herdeiro masculino, o rei acreditara que o trono estaria protegido de ambições pessoais e políticas com o Tratado de Salvaterra. Mas os acontecimentos precipitaram-se. A regência confiada a Leonor Teles e as aclamações de João de Castela e de Beatriz como reis legítimos, fizeram eclodir revoltas em vários pontos do país. Foi uma longa crise que o mestre de Avis soube gerir e dirigir até às célebres Cortes de Coimbra, onde foi eleito D. João I de Portugal.

A causa era Portugal e mestre de Avis ganhou-a nos campos de batalha, a defender o reino dos castelhanos. Conquistou apoiantes e prestígio e muitas vozes do povo e da nobreza já o aceitavam como defensor e regedor do país, quando decidiu convocar as Cortes que iriam ter lugar em Coimbra, entre 3 de março e 10 de abril de 1385. Impunha-se a esta assembleia, chamada pela primeira vez a discutir um assunto dinástico, escolher entre três candidatos o que apresentasse maior legitimidade para ocupar o trono vazio.

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Embora D. Fernando tivesse acautelado o futuro nas cláusulas do acordo matrimonial da filha com o rei de Castela, o certo é que o Tratado de Salvaterra de Magos morreu com o rei no dia 22 de outubro de 1383. A regência entregue à mal-amada Leonor Teles, até nascer filho varão a Beatriz, desencadeou uma onda de protestos contra a rainha-viúva e o seu amante galego, o conde Andeiro, morto no decorrer de um golpe palacianoOs acontecimentos precipitaram-se e o monarca castelhano entendeu que devia reclamar o trono português pela força das armas. Porém, o seu exército saiu derrotado de todos os confrontos pelas hostes do mestre de Avis, muitas vezes comandadas por Nuno Álvares Pereira, cujo desempenho e apoio à criação da nova dinastia serão, a devido tempo, recompensados com títulos e doações de grandes riquezas.

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Entre conspirações e ações militares bem-sucedidas, o filho bastardo de D. Pedro I, meio-irmão do defunto rei, tornara-se figura essencial à independência do reino. Consciente do poder que reunira durante os anos de crise, decide avançar para a batalha política da sua vida.

Travada na mais célebre assembleia da História de Portugal, perante representantes do clero, da nobreza, dos concelhos e das vilas, a pretensão do mestre foi defendida nas intervenções do Condestável e na argumentação de João das Regras, que habilmente soube afastar do trono D. Beatriz e a ameaça espanhola, e ainda o outro candidato que era D. João, filho de D. Pedro e D. Inês de Castro.

Mestre da ordem de Avis, até então um desconhecido, via-se assim aclamado rei D. João I de Portugal, no dia 6 de abril de 1385. É ele o protagonista de uma das mais brilhantes crónicas de Fernão Lopes, documento escrito à distância do tempo, mas que bem retrata a crise de 1383- 1385, explicada aqui pelo professor de História da Universidade de Coimbra, João Gouveia Monteiro.

As “Crónicas”, de Fernão Lopes
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Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada - Cortes de Coimbra de 1385, Sala dos Capelos, Universidade de Coimbra
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2019