A expulsão dos judeus de Portugal

A decisão de decretar a expulsão dos judeus de Portugal foi tomada pelo rei D. Manuel na sequência dos eventos ocorridos em Espanha, ou seja, da política de unidade religiosa imposta pelos Reis Católicos. Estes expulsaram os judeus pelo Decreto de Alhambra, a 31 de março de 1492, após a conquista de Granada, mas nada indicava que o mesmo fosse decretado em Portugal.

Não havia episódios de perseguição generalizada aos judeus, ou de massacres, ao contrário do que já ocorrera em Espanha ou noutras regiões da Europa. D. João II aceitara receber os judeus que fugiram de Espanha, após a expulsão de 1492, embora sob condições muito precárias.

Nada indica que o rei D. Manuel tivesse qualquer inimizade aos judeus. Porém, o acordo de casamento do rei com a infanta D., Isabel, filha dos reis católicos, em 1496, previa nas suas cláusulas a expulsão dos judeus e muçulmanos de Portugal, o que o rei foi obrigado a aceitar.

 

  • O que dizia o decreto?

A lei de D. Manuel ordenava que até ao fim de outubro de 1497, “todos os judeus e mouros forros que em nossos reinos houver, se saiam fora deles, sob pena de morte natural, e perder as fazendas para quem os acusar (…) os quais judeus e mouros deixaremos ir livremente com todas suas fazendas e lhes mandaremos pagar quaisquer dívidas que lhes em nossos reinos forem devidas”.

Apesar do tom claro do texto, o rei tentou dificultar a sua saída, de vários modos. A primeira foi fechar os portos ao seu embarque, excetuando o de Lisboa.

Calcula-se que 20 mil judeus concentraram-se no porto de Lisboa, para este efeito. O rei ordenou igualmente a conversão forçada – ou seja, o batismo – de crianças judias, que foram tiradas aos pais e entregues a famílias cristãs. Houve igualmente conversões forçadas de muitas famílias.

O objetivo era o de impedir a saída de judeus e de tentar por todos os modos que ficassem em Portugal.

 

  • Que efeitos teve esta medida?

Formalmente, deixou de haver judeus em Portugal. Os que ficaram foram convertidos à religião católica, embora sob a designação de cristãos-novos. Sabe-se que o rei recusou-se a repatriar os judeus espanhóis que se tinham refugiado em Portugal e aboliu qualquer discriminação entre estes e os cristãos-velhos. Mas o ambiente social contra os judeus, agora cristãos-novos, agravou-se cada vez mais.

Em 1506 houve um massacre em Lisboa, no qual foram mortos milhares, o que apressou a sua saída.

A Inquisição foi introduzida em 1536 e só foi abolida em 1821. Os judeus desapareceram, portanto, de Portugal. Muito recentemente, o governo português abriu a possibilidade de conceder a nacionalidade portuguesa aos descendentes dos judeus expulsos, no que foi entendido como uma forma de corrigir e de sarar um erro histórico.

Ouça aqui outros episódios do programa Dias da História

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Os Dias da História - Expulsão dos judeus de Portugal
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paulo Sousa Pinto
  • Produção: Antena 2
  • Ano: 2016
  • Imagem: A expulsão dos Judeus, Roque Gameiro