A morte de D. João IV

A 6 de novembro de 1656, morreu no Paço Real em Lisboa, com 52 anos, o rei D. João IV, aparentemente vitimado por doença renal de que padecia havia já algum tempo. Chegava ao fim o reinado daquele que ficou conhecido como “o Restaurador”.

Em 1630, D. João sucedeu ao pai, D. Teodósio, no ducado de Bragança que já era, nessa época, a mais importante casa nobiliárquica portuguesa. Porém, estava-lhe reservado um papel bem mais importante da História de Portugal, quando, dez anos mais tarde, um grupo de conspiradores tomou o poder em Lisboa e lhe entregou o comando da revolta e a coroa do reino. Seja por hesitação ou por prudência, o duque de Bragança demorou algum tempo a aceitar, uma vez que a revolta contra Filipe IV de Espanha envolvia enormes riscos pessoais, para sua casa e para o próprio reino. Há quem afirme que a decisão final terá sido tomada por influência direta da sua mulher, D. Luísa de Gusmão. Finalmente, a 15 de dezembro de 1640, foi aclamado em Lisboa e solenemente jurado como D. João IV.

 

  • Como foram os primeiros passos da “Restauração”?

Após a declaração inequívoca da revolta e a reclamação do trono de Portugal, D. João IV e os seus estrategas tinham pela frente um longo caminho a percorrer. A adesão geral à sua causa, tanto em Portugal como nas diversas parcelas do império, assim como o estado de debilidade e de crise em que vivia a monarquia de Filipe IV, eram fatores favoráveis, mas o desfecho do processo era muito incerto. O reinado de D. João IV foi, portanto, um período de crise, marcado por três ações fundamentais: primeiro, mobilizar o reino contra a esperada invasão espanhola, o que implicava um enorme esforço militar e financeiro; segundo, obter apoio internacional à causa portuguesa, nomeadamente junto dos inimigos de Filipe IV, ou seja, a Inglaterra, os Países Baixos ou a França. Por fim, havia que justificar a revolta do ponto de vista jurídico, assumindo que não se tratava de uma rebelião mas sim da restituição do trono ao seu legítimo representante, uma vez que os Filipes tinham usurpado o poder. É neste sentido que ficou consagrada a expressão de “Restauração”.

 

  • E qual o balanço à data da sua morte?

Quando D. João IV morreu em 1656, o sucesso da revolta estava longe de estar assegurado. Portugal tinha resistido, do ponto de vista militar, às tentativas de invasão do território nacional por parte de Filipe IV, somando diversas vitórias no campo de batalha. No plano internacional, Portugal obteve o apoio francês e inglês, mas as negociações foram difíceis com os Países Baixos, que eram o principal inimigo dos portugueses na Ásia e no Brasil. Já a Santa Sé manteve-se claramente hostil, graças à influência espanhola junto do papa. D. João IV teve ainda que enfrentar uma conspiração para o assassinar, logo em 1641, e um clima de suspeita e de turbulência no seio da corte. A morte do príncipe Teodósio, em 1653, foi um revés importante, uma vez que lançava dúvidas sobre a sucessão ao trono, o que o monarca tentou remediar no seu testamento através da designação da rainha D. Luísa de Gusmão como regente. Apesar das incertezas, o processo da Restauração viria, porém, a sair vitorioso, com o reconhecimento pleno da independência de Portugal por parte da coroa espanhola, em 1668.

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Ficha Técnica

  • Título: Os Dias da História - Morte de D. João IV
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paulo Sousa Pinto
  • Produção: Antena 2
  • Ano: 2017
  • D. João IV: Avelar Rebelo