As companhias monopolistas do Marquês de Pombal: o real vinho do Porto

Reinava a desordem na produção e comercialização do vinho do Porto, setor largamente controlado pelos ingleses, quando o Marquês de Pombal interveio para resgatar este produto-chave da economia portuguesa do século XVIII. Fundada a 10 de setembro de 1756 por alvará régio de D. José I, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro visava proteger a qualidade do precioso vinho, mas pequenos produtores e comerciantes resistiram ao monopólio pombalino.

A El-Rei de Portugal pediram os Lavradores de Cima do Douro e os Homens Bons da Cidade do Porto proteção para o vinho licoroso que lhes garantia o sustento. O produto andava a perder-se com os negociantes ingleses: adulterado na sua produção com aguardente, era vendido a «preços excessivos e assemelhava-se já a alguns vinhos franceses». Antes que a reputação se dissolvesse na ganância, era urgente intervir com uma regulamentação que defendesse a cultura, a qualidade e o preço do apreciado néctar, precioso para a economia portuguesa.

O apelo fundamentava o essencial das convicções económicas do ministro do Estado. Sebastião José de Carvalho e Mello, conde de Oeiras e futuro Marquês de Pombal, defendia a reorganização do comércio num sentido mercantilista, criando monopólios majestáticos confiados a companhias privilegiadas.

Fundada a 10 de setembro de 1756, a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro tinha como objetivo  principal «sustentar com reputação dos vinhos a cultura das vinhas e beneficiar ao mesmo tempo o Comércio, que se faz neste género, estabelecendo para ele um preço regular, de que resulte competente conveniência aos que o fabricam, e respetivo lucro aos que nele negoceiam».

Não tão antiga como a vinha no Douro é certo, mas esta Companhia com competências e privilégios tantos que chegou a substituir o Estado na cobrança de impostos, na construção de estradas e nas obras de navegabilidade do rio, veio organizar a viticultura duriense e criar a primeira região demarcada do mundo.

Depois da assinatura do alvará régio, Pombal mandou marcar as terras onde era produzido o melhor vinho, destinado sobretudo à exportação. Mas as regras e os códigos protecionistas da Real Companhia Velha, como ficou a ser conhecida em finais do século XIX, suscitou oposições e resistências dos produtores que não pertenciam à zona demarcada, e dos comerciantes ingleses.

No entanto, a surpresa maior viria de onde menos o poder central esperava. A revolta que incendiou o Porto seria protagonizada pelos taberneiros, estes inconformados com a obrigação em vender apenas o chamado vinho da Feitoria. O motim não terminaria sem sangue. Pombal, uma vez mais com mão de ferro, «meteu o Porto na ordem» com castigos exemplares: 26 pessoas foram condenadas à morte, outras ao degredo e à confiscação de bens.

A caminho dos três séculos de história, a poderosa Companhia fundada para colocar ordem no comércio do vinho do Alto Douro, hoje afamado mundialmente, sobreviveu à passagem do tempo: é a empresa mais antiga do país e tem a sua emblemática sede em Vila Nova de Gaia.

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Ficha Técnica

  • Título: Real Companhia
  • Tipologia: Extrato de Documentário
  • Autoria: Maria Júlia Fernandes
  • Produção: RTP
  • Ano: 2009