Batismo do rei do Congo

A 3 de maio de 1491, no meio de grandes festejos, o rei do Congo Nzinga-a-Nkuwu recebeu o batismo e adotou o nome de D. João, e nesse mesmo dia foi dado início à construção de uma igreja em Mbanza Congo, a capital do reino. Foi um momento-chave do processo de aproximação diplomática entre Portugal e o Congo, iniciado quando ali chegaram os navios de Diogo Cão, em 1483.

No período entre estas duas datas houve contactos e troca de embaixadas e um pequeno grupo de nobres congoleses esteve em Portugal, foi batizado – tendo sido padrinhos D. João II e a rainha D. Leonor – e aprendeu a língua portuguesa.

Foi após o seu regresso ao Congo que parte da nobreza e o próprio rei se converteram ao cristianismo, o que constituía uma forma eficaz de consolidar uma aliança política. Para Portugal, esta aliança com o Congo assinalava o sucesso de uma das facetas do projeto ultramarino de D. João II, o de promover o comércio e as boas relações com os reinos da costa ocidental africana, que se tornavam bases seguras na rota do caminho marítimo para a Índia.

 

  • Qual o significado do batismo para o Congo?

O reino do Congo era, nos finais do século XV, uma próspera formação política que abrangia uma vasta região da África Central, abarcando o norte da atual Angola e várias regiões dos países vizinhos. O rei ocupava o topo de uma pirâmide social e a aliança com os portugueses reforçava o seu prestígio junto da nobreza local e aumentava o seu poder em relação a outros reinos vizinhos.

Apesar dos cronistas portugueses envolverem a narrativa deste episódio num tom milagroso, a aceitação do batismo teve provavelmente uma explicação mais simples e material: o rei enfrentava revoltas nas suas fronteiras e partiu para a guerra logo após o seu batismo e dos seus capitães, levando na dianteira uma bandeira com uma Cruz que lhe havia sido oferecida pelo embaixador português. A sua conversão esteve, portanto, ligada aos poderes mágicos e sobrenaturais que os africanos associavam à nova religião e aos portugueses.

 

  • E a longo prazo, o que se passou?

A adesão do cristianismo de Nzinga-a-Nkuwu, D. João I, foi aprofundada pelo seu filho e sucessor Mvemba-a-Nzinga, ou D. Afonso, mas a nova religião não tardou a suscitar resistências por parte da nobreza e da população local, uma vez que se tratava de uma religião exclusiva, ou seja, a sua aceitação implicava a rejeição das práticas e das tradições religiosas da terra.

Houve cisões na corte entre os que adotavam fervorosamente a nova religião e os que a rejeitavam e defendiam o regresso às práticas tradicionais. Uma vez que a monarquia no Congo não era sucessória, mas sim eletiva, a religião passou, portanto, a ser mais um fator envolvido nas lutas políticas.

Apesar de todos os percalços e do aumento substancial da instabilidade naquela região, o cristianismo acabou por ganhar raízes no Congo e os portugueses mantiveram boas relações com o rei ao longo do século XVI. Este panorama só veio a degradar-se com após a fundação de Luanda e o desvio do foco do interesse português para o reino do Ndongo, mais a sul, num processo que assinalou o declínio do Congo e a emergência de novas potências na região.

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Ficha Técnica

  • Título: Os Dias da História - Batismo do rei do Congo
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paulo Sousa Pinto
  • Produção: Antena 2
  • Ano: 2017
  • Histoire des Voyages: Pierre Duflos