Organizar as partidas e a logística para um exército

Entre Fevereiro e Outubro de 1917 foram enviados para França cerca de 60 mil soldados lusos, integrados no Corpo Expedicionário Português que lutou ao lado do exército britânico. A operação logística padeceu de múltiplos problemas que se iriam repercutir negativamente na moral dos soldados.

Os contingentes levavam para França tudo o que precisavam e os navios tinham levar a bordo: carros de tração animal ou a motor, animais de tiro, cavalos para os regimentos de cavalaria, ambulâncias motorizadas, colchões para as tarimbas, carne e água para a viagem, capacetes, uniformes e armamento, sobretudo artilharia.

Parte das munições era feita em Portugal e as mulheres carregavam os obuses à cabeça, como se fossem cestas de peixe, até aos barcos, onde eram cuidadosamente empilhadas para a travessia até França.

Os navios iam cheios até ao porto de Brest, ao longo de uma viagem de três dias, já que a neutralidade espanhola impedia a ida por terra. Muitos transportes não estavam preparados para jornadas tão longas e os homens seguiam amontoados nos conveses, ao lado dos animais ou sobre a bagagem.

Recebidos com curiosidade pelos franceses, os portugueses iam sendo acantonados até partirem para La Lys.

A empreitada de enviar para França duas divisões criava problemas logísticos complicados e obrigava a um planeamento apurado.

Os navios britânicos não se encontravam adaptados ao transporte de tropas de Portugal para França o que demorava cerca de três dias. Normalmente realizavam viagens de três horas entre Inglaterra e França, não possuindo por isso grandes condições para as tropas dormirem ou prepararem refeições quentes.

A maioria dos soldados seguiu por mar, mas houve também alguns grupos que o fizeram por terra atravessando a Espanha de comboio vestidos à civil, para não desrespeitar a neutralidade espanhola.

Os primeiros homens do CEP chegaram a Brest no dia 2 de fevereiro de 1917, e entre esta data e 28 de outubro, desembarcaram um total de 59.388 homens. Dali seguiam de comboio, durante três dias, até à área de concentração do CEP, em Aire-Sur-La-Lys/Thérouanne, onde tiveram lugar novos treinos de guerra, dando especial atenção a questões relacionadas com a construção, manutenção e combate nas trincheiras e também à defesa contra o gás. Recebiam também o equipamento britânico, nomeadamente, capacetes e as espingardas “Lee Enfield” e “Lewis”.

Organizados em Lisboa pela Comissão de Aprovisionamento dos Transportes de Tropas, dependente do Ministério da Guerra, saíram nove comboios entre janeiro e maio de 1917 e mais oito entre julho e outubro do mesmo ano.

Entre tantos preparativos houve espaço para muito correr mal e um dos principais críticos da organização militar seria o genreal Gomes da Costa, comandante da 1ª Divisão que deixou um texto com críticas claras a tanta desorganização:

“(…) a facilidade da assimilação de que os portugueses são dotados, a sua inteligência viva, supriram esta e outras deficiências e a nossa Administração Militar rapidamente se apropriou dos processos que os ingleses tinham aperfeiçoado em anos de guerra, organizando e fazendo funcionar a primor serviços inteiramente ignorados por nós, como os balneários, as lavandarias, a acomodação e concerto de fardamento, calçado, enfim, de um sem número de cousas que vimos funcionar na guerra, e que depois dela ainda não soubemos implantar em nossa casa. E porquê? Porque em meios retrógrados como é o militar em Portugal, não há maneira de cousa alguma nova se implantar e progredir.

E assim, nós vemos, ou antes não vemos ainda hoje uma simples lavandaria a funcionar numa guarnição, não há balneário porque a verba para consumo de água não dá para mais do que para se lavarem as pontas dos dedos, etc. Assim, não sendo habitual no nosso exército que o soldado se lavasse, não foi pequeno o trabalho dos Serviços Administrativos, logo de entrada em França, com a organização de balneários e lavandarias “.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Postal da Grande Guerra - Partidas e Logística
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Graça Andrade Ramos
  • Produção: RTP
  • Ano: 2017