Luiza Neto Jorge em forma de poesia

Escrever era um ato de depuração e imaginação. A Luiza Neto Jorge não bastava o sentido comum das palavras. Precisou de inventar uma sintaxe, uma língua nova para dar forma à sua forma de fazer poemas que "ensinam a cair". Da vida e da obra da poetisa falam nesta reportagem quem com ela privou.

A obra é breve, mas intensa. Como a vida de Luiza Neto Jorge (1939-1989). Sete livros construídos como um corpo rigorosamente cuidado. Sempre a medir o poema/ pela medida inteira. Precisão e imaginação a registarem coisas simples, coisas do quotidiano que a todos cabe viver e que só a alguns é dado ver com palavras. As suas histórias biográficas não lhe enchiam versos, alguns apontamentos, talvez. Minibiografias.  

“Minibiografia”, de Luiza Neto Jorge
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“Minibiografia”, de Luiza Neto Jorge

A biografia de Luiza Neto Jorge divide-se entre o tempo de escrever e o tempo de não escrever. A poesia, sabia-o, era o seu lugar, uma segunda rua do Mundo para habitar com a voz poética. A primeira – hoje a chamar-se da Misericórdia – fora morada da casa de família em Lisboa, cidade natal. Cumpridos os estudos na Faculdade de Letras, vieram oito anos em Paris, uma passagem pelo Algarve com a participação no grupo de vanguarda Poesia 61, ao lado de Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz e outros poetas.  

Mas Luiza não seguia modelos fixos. Expressiva, impressiva, abstrata, por vezes, surrealista. Sempre inconformista, criava a identidade que transparece logo na primeira obra publicada em 1960, “A Noite Vertebrada”. Mais tarde, um estranho afastamento. Esse longo tempo sem poesia sentiu-o como uma negação dessa identidade, explicava na entrevista à RTP, excerto recuperado nesta reportagem. Nesses anos dedicou-se à tradução, trabalhou textos para teatro e cinema.

Quando a leu pela primeira vez, Fernando Cabral Martins soube que aquela poesia pertencia a outra dimensão. Única, é o adjetivo que usa. Entre as características apontadas pelo prefaciador do livro de todos os poemas, estão a depuração poética e a intenção em encontrar uma nova língua. Fosse para absorver o real ou dialogar com um desenho, uma pintura de Jorge Martins. É do artista plástico o retrato que faz a capa desta “Poesia” mais completa, com textos inéditos e alguns dispersos. Como os que escreveu de uma penada, a pensar numa exposição deste amigo. Na fotografia tirada em 1970, em Paris, está a mulher que o pintor recorda em tudo superlativa.  

Do desenho à escultura com Jorge Martins
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Do desenho à escultura com Jorge Martins

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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante
  • Tipologia: Extrato de Magazine Cultural - Reportagem
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2023