José Gil e o problema da identidade portuguesa

“Pensando, descobrimos sempre qualquer coisa de novo”, afirma José Gil nesta entrevista realizada em 2005. A inquietação da pergunta acompanha-o desde a adolescência, quando começou a interrogar-se sobre a sua identidade: “quem sou eu?”, “porque estou aqui?” e outras questões básicas da Filosofia, que tiveram sobre ele um efeito transformador.

Perguntar, refletir, analisar seriam os motores da vida do jovem nascido em Moçambique, em 1939, que trocou Matemática por Filosofia, curso feito em Paris, terra de exílio voluntário por não conseguir estar no Portugal do regime salazarista. Voltou nos anos quentes do pós-revolução, viu o país dar os primeiros passos para a democracia, conheceu o poder da altura numa curta experiência como adjunto do Secretário de Estado do Ensino Superior.

José Gil acompanhou as mudanças na sociedade mas, no seu entender, a mudança profunda nunca foi feita: as mentalidades continuaram fechadas, presas à inércia e a um medo interiorizado que a ditadura fomentou; o espaço público manteve-se reduzido, a iniciativa individual e coletiva muito limitadas ou praticamente inexistentes. Da exaustiva reflexão sobre a identidade portuguesa, escreveu um “esboço de ensaio”, retrato pessimista do presente e do futuro “do país da não inscrição, onde nada acontece”.

Nos próximos 25 minutos, José Gil, irmão do filósofo Fernando Gil, desaparecido em 2006, analisa esta sua obra “Portugal Hoje – O Medo de Existir”, que abre com uma expressão usada por um apresentador no Telejornal: “É a vida!”. Mas terá de ser a vida exatamente assim, como a vivemos, acompanhada por um encolher de ombros? O desafio é pensar, insiste. Insistimos.