O incêndio de Roma
Uma das imagens mais divulgadas sobre a Roma da Antiguidade é a do imperador Nero a cantar e a tocar lira, no seu palácio, inspirado pela visão da cidade a arder. Trata-se de uma ideia muito comum, mas cuja veracidade é muito duvidosa.
Sabe-se que. na noite de 18 de julho do ano 64, deflagrou um incêndio na capital do império que rapidamente alastrou a diversos bairros e esteve ativo durante vários dias, destruindo boa parte da cidade. A falta de fontes históricas e as contradições que existem entre as poucas informações disponíveis permitiram que a versão mais desfavorável à ação do imperador fosse a mais divulgada ao longo dos tempos. O motivo prende-se com a lenda negra que foi criada em torno da figura de Nero, não apenas por alguns historiadores romanos, que o retrataram como um louco vaidoso, como pelos cronistas cristãos dos séculos seguintes, que o descreveram como um tirano cruel e responsável pela primeira grande perseguição aos cristãos.
- Que se sabe, então, ao certo?
A versão mais aceite entre os historiadores é a de que se tratou de um fogo acidental e há indícios da arqueologia que parecem apoiar esta versão. O relato mais fiável é o de Tácito, que teria cerca de sete anos de idade à data dos eventos. Segundo este historiador romano, o fogo começou nas lojas e armazéns nas redondezas do Circo Máximo e espalhou-se rapidamente devido ao forte vento que soprava, causando enorme destruição na cidade. Afirma igualmente que o imperador se encontrava fora de Roma e que regressou rapidamente para supervisionar o combate ao incêndio e o socorro aos afetados. Não deixa, porém, de manifestar a sua incerteza acerca das causas do fogo, afirmando que, e cito, “que tenha sido acidental ou lançado de forma traiçoeira pelo imperador, é incerto, uma vez que existem autores a dar conta de ambas as versões. Foi, porém, um desastre pior e mais terrível do que qualquer outro que tenha ocorrido nesta cidade por ação violenta do fogo.”
- Que aconteceu depois do incêndio?
Logo após a extinção do fogo, começaram a circular rumores acerca do envolvimento do imperador, nomeadamente a ideia de que teriam sido os seus homens a provocar o incêndio. O facto de Nero ter aproveitado para construir um luxuoso palácio e uma enorme estátua dedicada a si próprio, nas áreas destruídas pelo fogo, agravou naturalmente as suspeitas. O imperador apressou-se a procurar um bode expiatório para a autoria do incêndio, que encontrou nos cristãos, que eram então olhados pela população de Roma como uma obscura seita religiosa que praticava atos abomináveis. Porém, o imperador perseguiu-os com uma tal ferocidade que o efeito acabou por ser o contrário, como comentou Tácito com as palavras seguintes: “mesmo para estes criminosos que mereciam uma punição severa e exemplar, emergiu um sentimento de compaixão, pois a sua destruição parecia servir o bem comum mas, na verdade, apenas saciava a crueldade de um único homem”.
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Ficha Técnica
- Título: Dias da Historia - Incêndio de Roma
- Tipologia: Programa
- Autoria: Paulo Sousa Pinto
- Produção: Antena 2
- Ano: 2017
- fogo roma: Hubert Robert