Início da “Revolução Cultural”, na China
A 16 de maio de 1966, o Politburo - a cúpula dirigente do Partido Comunista Chinês - emitiu um comunicado, após uma reunião convocada pela Secretário-Geral, Mao Tsé Tung. Nesse documento, que ficou conhecido como a “Notificação de 16 de maio”, o Politburo denunciava a existência de elementos contra-revolucionários no interior do Partido que pretenderiam alegadamente inverter o rumo da Revolução chinesa.
Numa série de alegações e de argumentações marcadas pela retórica ideológica, o documento justificava a necessidade de detetar e neutralizar esses elementos, assim como a de seguir o plano de Mao Tsé Tung de proceder a uma Revolução Cultural no interior do Partido e do país. Este comunicado colocou diretamente em xeque vários notáveis do Partido, acabando por conduzir ao seu afastamento e por concentrar todo o poder nas mãos de Mao e de um pequeno grupo de fiéis.
- Como se explica?
O apelo de Mao a uma “ampla revolução cultural” que expurgasse o Partido de traidores e que fizesse a revolução regressar à sua pureza original foi, na verdade, uma manobra para recuperar a sua antiga posição como líder incontestado da China. O seu prestígio e posição no interior do Partido Comunista Chinês tinha sido seriamente abalada pelos resultados catastróficos da chamada Campanha do Grande Salto em Frente, o movimento de industrialização e de coletivização forçada que havia sido executada diretamente por Mao ao longo da década de 1950.
Por outro lado, a unidade ideológica do chamado mundo socialista estava quebrada, após as reformas promovidas pelo líder soviético Nikita Krustchev que chocavam diretamente com a linha seguida pelos chineses. Apelar diretamente à ação contra um alegado inimigo interno era, portanto, uma forma de galvanizar o fervor ideológico, eliminar as dissidências e fortalecer a sua própria liderança.
- O que foi exatamente a Revolução Cultural?
Depois de conseguir o controlo do Politburo e de afastar os elementos que não lhe eram fiéis, Mao lançou uma série de apelos às bases do Partido, nomeadamente os Guardas Vermelhos e os jovens, no sentido de expurgar a China do que considerava serem os restos do feudalismo e da burguesia. Nos meses seguintes, foi elaborado um programa de eliminação dos chamados 4 velhos de que padecia a China: as velhas ideias, a velha cultura, os velhos costumes e os velhos hábitos. Isto traduziu-se no assalto e destruição sistemática do património cultural do país, com a queima de livros, destruição de obras de arte, mobiliário e edifícios e a perseguição a artistas, intelectuais e professores.
A literatura, a filosofia e a arte tradicional chinesa foram declaradas decadentes e banidas e substituídas por uma literatura e uma estética revolucionária. A figura de Mao tornou-se um ícone e objeto de um culto da personalidade. A Revolução Cultural, apesar de ter abrandado ao fim de algum tempo, prolongou-se por cerca de 10 anos, pois só terminou oficialmente após a morte de Mao Tsé Tung, em 1976.
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Ficha Técnica
- Título: Os Dias da História - Início da “Revolução Cultural”, na China
- Tipologia: Programa
- Autoria: Paulo Sousa Pinto
- Produção: Antena 2
- Ano: 2017
- Rare Photos from the Cultural Revolution China: http://klarititemplateshop.com