O impulso criador de António Dacosta

Começou no Surrealismo, mas a sua forma de pintar obedece apenas à liberdade da experimentação. António Dacosta (1914-1990), nascido em Angra do Heroísmo, foi "o pintor europeu das ilhas" como lhe chamou Vitorino Nemésio.

A pintura tem dois tempos na vida de António Dacosta, dois momentos separados por um silêncio de 26 anos, em que simplesmente suspende a atividade artística para se dedicar à crítica de arte, que faz em jornais e revistas a partir de Paris. Mas, antes desse interregno, António vem dos Açores para estudar Belas-Artes em Lisboa, ainda na juventude dos 19 anos.

Como ilhéu que é, transporta para as suas obras essa singularidade das paisagens rodeadas de mar, uma geografia de solidão, memórias que o acompanham em todas as fases pictóricas. A primeira chama-se surrealismo. É militante e mentor do movimento em Portugal. Em 1940, sete anos antes de ser formado o Grupo Surrealista de Lisboa, Dacosta, António Pedro e Pamela Boden mostram obras que desafiam os cânones artísticos. A exposição é considerada a “entrada formal” do surrealismo em terras lusas.

Dacosta estuda depois em Paris, como bolseiro do governo francês e por lá fica a viver até á sua morte aos 85 anos. Nos seus quadros, a figuração fantástica, forte e densa é marcada pelos horrores da grande guerra e da guerra civil espanhola. Mas, se o surrealismo é um  fio condutor  da sua obra, o pintor  não vive preso a um só modelo e desenvolve ligações ao dadaísmo, ao cubismo e  avança para experiências mais abstratas. Transforma, por exemplo, cartazes rasgados e tapumes que apanha nas ruas em arte informal. Nesta série de trabalhos chega a usar tecidos, embalagens de queijo e a própria caixa de aguarelas.

Ninguém sabe ao certo o motivo que o leva a afastar-se deste mundo. São quase três décadas sem um sinal do pintor que, entretanto, é crítico de arte e escreve poesia. Quando finalmente regressa à pintura, apresenta composições mais íntimas, depuradas e poéticas. Desta fase são as séries açorianas, os “Tau” (letra grega equivalente ao ” t “), as fontes de Sintra e as assinaturas.

Cinco anos depois da sua morte é  publicado o livro de poemas “A cal dos muros”.

 

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Ficha Técnica

  • Título: Grandes Quadros Portugueses
  • Tipologia: Extrato de Programa
  • Produção: Companhia das Ideias
  • Ano: 2012