Blaise Pascal e a existência de Deus

Pascal propõe duas possibilidades disjuntivas: ou Deus existe, ou Deus não existe, e não é de forma racional que se chega a estas escolhas. É através de uma intuição do coração, como que por uma premonição infinita, mas permanente, tal como a presença de Deus. Na verdade, Deus pode não existir, mas a vida, vivida com essa premissa, não é a mesma que com a possibilidade da sua existência.

Para Pascal, o homem deve procurar  conhecer-se a si mesmo sem necessitar do consolo  das coisas exteriores e da sua explicação racional. Esse auto conhecimento só é possível pelo coração, pois “o coração tem razões que a razão desconhece”. Se Descartes retirou limites à razão, Pascal estabelece fronteiras: a razão é débil, não deduz os princípios que fundamentam o raciocínio (o espaço, a matemática, a geometria). O instinto e o coração é que sentem que há três dimensões no espaço e que os números são infinitos, para que a razão os possa explicar.

O homem encontra-se de forma absolutamente original entre o ser qualquer coisa, mas não ser tudo, saber com segurança e ignorar em absoluto, entre os anjos e os animais,  incapaz de reconhecer a sua natureza. Mas, com esforço, consegue a dignidade de reconhecer a sua indigência perante o universo. É através do pensamento que o homem se pode elevar então, porque uma árvore não se reconhece como miserável.

Pascal reconhece que é mais fácil não pensar, procurar o divertimento para ser feliz. Trabalho, diversões e outras ocupações servem para esconder o tédio e o vazio existencial, que envolvem o homem num fruir agradável e indolor até à morte. Mas isto significa renunciar à dignidade própria do homem, ao confronto com Deus e com a eternidade e deve ser contrariado com uma busca que faz sofrer e gemer.

O homem tem como possibilidade a fé que não é uma evidência, deve antes ser procurada de forma perseverante até desocultar a presença divina no mundo. Está numa espécie de jogo das escondidas, em que se arrisca o finito, o mundo das diversões, para ganhar o infinito e para isso o homem não necessita de ver mais provas da existência de Deus, deve antes diminuir as suas paixões. Ao Deus cristão do amor, não se chega através da razão mas sim de uma escolha do coração: viver como se Deus existisse, ou viver como se Deus não existisse, viver ao nível dos animais ou ao nível dos anjos ou entre o tempo e a eternidade.

Blaise Pascal nasceu em Clermont em 1623 e cedo se interessou pela ciência; aos 18 anos inventou uma máquina calculadora. Mas foi a vocação religiosa que o cativou. Integrou a comunidade religiosa da abadia de Port-Royal inspirada em Santo Agostinho, que se opunha à moral eclesiástica vigente. Até ao fim da sua curta vida de 39 anos, enquanto desenvolvia trabalho científico, ia escrevendo a sua Apologia do Cristianismo. Não acabou o projeto, mas os seus companheiros, de Port-Royal, deram vida à sua obra postumamente com título de Pensamentos.

“É um Clássico” é um programa da RTP2 em que o professor universitário António Caeiro comenta filosofia, filósofos e obras clássicas de forma informal. Veja, neste episódio, o seu comentário sobre Blaise Pascal.

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Ficha Técnica

  • Título: É um Clássico
  • Tipologia: Cultural
  • Autoria: António Caeiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2017
  • imagem: cópia de pintura a óleo de Blaise Pascal, por François II Quesnel. WikiMedia Commons