Fernando Pessoa, o poeta revisitado pelo seu biógrafo

Contar a história do poeta que era um fingidor foi desafio aceite por outro escritor, preso desde a primeira leitura ao labirinto construído por Fernando Pessoa nos seus 47 anos de vida. O Livro do Desassossego levou-o a investigar o vasto espólio pessoano, andar durante décadas a remexer papéis soltos, incompletos; fragmentos de uma imaginação em movimento perpétuo, diz Richard Zenith. E escreve:  

“quando as palavras começavam a fluir, usava todos os tipos de papel à disposição – folhas soltas, blocos de notas, papel de carta dos cafés que frequentava, páginas arrancadas de agendas ou calendários, as costas de tiras de banda desenhada e folhetos, sobrecapas, bilhetes de visita, sobrescritos e margens de manuscritos alinhavados alguns dias ou anos antes. E todos eram por ele depositados nessa grande arca de madeira: a herança que deixava ao mundo. Seriam necessárias décadas de devotado labor por parte de académicos e bibliotecários para que esse achado textual precioso fosse inventariado e largamente publicado, espantando-nos com as suas quantidade, qualidade e heterogeneidade”.

O excerto é de “Pessoa – Uma Biografia”, doze anos de trabalho para decifrar a vida do poeta que, desde muito cedo, se imaginava noutras vidas, o poeta por natureza insatisfeito, instável e indisciplinado, que buscava um lado espiritual sem se entregar a nenhuma religião em concreto. A nada em concreto. Queria a perfeição, mas não conseguia terminar grandes projetos. Nas palavras de Zenith, deixou-nos poemas que são como joias perfeitas. De Pessoa, Caeiro, Campos, Reis e de todas as identidades fictícias que criou. Na arca de madeira deixou milhares de poemas e peças em prosa, a maioria ainda por estudar. O que ainda há por revelar de Pessoa? Mais de mil páginas escritas e o biógrafo não hesita em dizer que o biografado permanecerá um mistério. 

“O Livro do Desassossego”, de Fernando Pessoa
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Camilo Pessanha, um poeta ao longe
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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2022