Formação do governo da “União Sagrada” em Portugal
Tomou posse, a 15 de março de 1916, o décimo terceiro governo da República Portuguesa, liderado por António José de Almeida, do Partido Evolucionista. Foi um governo inédito no panorama do regime republicano por constituir uma aliança dos dois principais partidos políticos, rivais entre si, isto é, o Partido Evolucionista e o Partido Democrático.
O motivo para esta formação governativa foi a declaração de guerra por parte da Alemanha, no dia 9 de março, e o envolvimento de Portugal na I Guerra Mundial. Perante a gravidade da situação, o presidente Bernardino Machado iniciou de imediato os contactos com os partidos políticos para a criação de um governo de salvação nacional, à semelhança do que tinha ocorrido em França. Apesar da recusa de outros partidos em aderir, a solução foi aceite pelos líderes das duas principais formações políticas, António José de Almeida e Afonso Costa. Tratou-se, portanto, de um governo de emergência, que tomou a designação de “União Sagrada” e que pretendia congregar a solidariedade de todos os sectores nacionais para o esforço de guerra.
- Quais foram as razões para a entrada de Portugal na guerra?
O deflagrar do conflito em larga escala entre as grandes potências mundiais da época colocou Portugal numa posição difícil. O país encontrava-se numa situação de grande instabilidade após a proclamação da República, em 1910, com a divisão do movimento republicano em vários partidos, que se digladiavam em lutas políticas constantes. Bastará relembrar que Portugal conheceu 12 governos desde a queda da monarquia, a 5 de outubro de 1910. Por outro lado, a participação na guerra suscitava uma resistência geral, nomeadamente por parte dos movimentos operários e sindicais. Até 1916, Portugal manteve formalmente uma posição de neutralidade, mas as forças políticas dominantes consideravam que era necessário entrar no conflito ao lado dos Aliados como forma de salvaguardar os interesses coloniais em África. A colaboração com a Grã-Bretanha teve o seu momento decisivo quando as autoridades portuguesas apresaram navios alemães nos portos nacionais, o que inevitavelmente levou a uma declaração de guerra por parte da Alemanha e a entrada de Portugal no conflito.
- Como foi o governo da “União Sagrada”?
Após a declaração de guerra pelos alemães, Portugal preparou-se para o inevitável embate que se esperava. Inicialmente, o governo da “União Sagrada” suscitou simpatia e adesão, mas estas expectativas desfizeram-se medida que os efeitos da guerra se fizeram sentir na situação económica e social do país. Em janeiro de 1917, Portugal enviou os primeiros contingentes militares para França e o descontentamento popular com a crise económica agravou-se. Do ponto de vista político, o governo liderado por António José de Almeida enfrentou desconfianças internas e a hostilidade geral dos restantes partidos, assim como dos setores que se opunham à participação na guerra. Em abril de 1917, o governo caiu e tomou posse uma segunda formação da “União Sagrada”, desta vez liderada por Afonso Costa. A crescente instabilidade degenerou em crise aberta e, no final desse ano, um golpe de estado conduziu ao poder Sidónio Pais, que destituiu o presidente da República e implantou um regime semi-ditatorial, assinalando o fim definitivo da experiência governativa de salvação nacional.
Ficha Técnica
- Título: Os Dias da História - Formação do governo da “União Sagrada” em Portugal
- Tipologia: Programa
- Autoria: Paulo Sousa Pinto
- Produção: Antena 2
- Ano: 2018
- Fotografia: O Presidente da República Portuguesa, Bernardino Machado (ao centro), recebe o "Ministério da União Sagrada". Joshua Benoliel .