Machado Santos e a revolta de Tomar

Machado Santos, capitão-de-mar-e-guerra, herói do 5 de Outubro de 1910, preparou um golpe de estado mas tudo se sabia fora do círculo de conspiradores e correu mal. Acabou por ficar conhecido como ridículo.

As conversas e reuniões de café propagavam os boatos de que Machado Santos preparava um ministério revolucionário, que dirigia convites, e que o complot militar contava com apoios internos no Ministério da Guerra, mas os serviços de informações da República sabiam que se preparava um golpe e estava estava preparado. Este falhou e foi apelidado de ridículo.

Machado Santos falsificou um Diário do Governo, utilizando uma falsa assinatura do Presidente da República, Bernardino Machado, onde este lhe entregava o governo. O documento tem até o cuidado de nomear o então ministro de Guerra, Norton de Matos, para adido militar em Paris.

O capitão-de-mar-e-guerra escolheu como ponto de partida para a sua revolução o quartel de Tomar, onde existia apenas uma unidade militar que facilitaria a sua tomada e também obrigaria as forças fiéis ao governo a actuar fora da capital.

Saiu daquela unidade militar montado num cavalo branco, com uma força de 400 praças e 11 oficiais, meteu pela serra, sofrendo durante todo o percurso uma enorme tempestade. Chegados a Abrantes sem energia, dirigiram-se ao quartel de infantaria 22 esperando encontrar aí o batalhão de infantaria 21. Mas tal não aconteceu.

Pouco depois o comandante de artilharia 8, coronel Abel Hipólito, cercou e notificou Machado Santos de que queria parlamentar. Sob a ameaça do quartel ser bombardeado caso não houvesse uma rendição completa, o revolucionário, fardado de capitão-de-mar-e-guerra, rendeu-se sob garantia da sua vida e da dos revoltosos. Conduzido ao Arsenal da Marinha em Lisboa foi transportado para o cruzador “Vasco da Gama”.

O movimento de revolta fez-se sentir em Tomar, Figueira da Foz, Abrantes e Castelo Branco. A verdade é que no auto das perguntas e na declaração que Machado Santos fez, este assume exclusiva responsabilidade pelo golpe inclusive pela impressão do falso Diário de Governo e outros editais.

O governo aproveitou o conhecimento que tinha do complot para fazer auto-propaganda, enquanto  liderava uma acção de repressão alargada com inúmeras prisões, declaração de estado de sítio e censura ou suspensão de vários jornais monárquicos. Aprovou-se também uma lei para sanear militares e funcionários públicos revoltosos.

Entre os presos contava-se Miguel Bombarda filho, Egas Moniz e Costa Júnior, deputado que constava, tal como outros nomes, sem o seu conhecimento, do elenco governamental anunciado por Machado Santos. Preso foi também o administrador do jornal “A Lucta”, fundado por Brito Camacho um dos partidos da União Sagrada então à frente do país.

Na câmara dos deputados, Brito Camacho confrontou o presidente do governo exigindo que se esclareça se Machado Santos, herói do 5 de Outubro, queria afinal derrubar o governo ou se era acusado de querer derrubar a República .

A imprensa estrangeira falava em crimes de alta traição e germanofilia por parte de Machado Soares. Na câmara dos deputados, o presidente do ministério António José de Almeida prestava “homenagem calorosa à dignidade do exército português” que defendera o bom nome da Pátria, apesar do envolvimento de alguns na revolta.

Na relação de detidos que consta no Arquivo Histórico Militar mais de 40 por cento dos 316 detidos eram militares.

Machado Santos  ficou preso no Forte de S. João da Barra e assume toda a culpa pelo golpe, mas insiste em defender o direito de não permitir que se apouque a sua graduação militar e categoria social, apelando para a Majoria General.

Mais tarde apoiará Sidónio Pais e, cinco anos depois da Revolta de Tomar, o herói da Rotunda será assassinado…

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Ficha Técnica

  • Título: Postal da Grande Guerra - A revolta de Tomar
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Sílvia Alves
  • Produção: RTP
  • Ano: 2016