Operação anfíbia norte-americana em Trípoli, na atual Líbia

Ao anoitecer do dia 16 de fevereiro de 1804, um pequeno navio norte-americano entrou discretamente no porto de Trípoli, no norte de África. Navegava com bandeira de Malta e levava a bordo um grupo de cerca de 80 soldados, disfarçados de mercadores e sob o comando do tenente Stephen Decatur.

Aproximou-se lentamente de um navio de guerra norte-americano, o Philadelphia, que alguns meses antes tinha arribado à costa e sido tomado pelos corsários barbarescos que controlavam a cidade. Conseguindo aproximar-se sem serem detetados, os soldados americanos tomaram então o navio de assalto e eliminaram os homens que se encontravam a bordo. De seguida, e depois de constatarem que o Philadelphia não estava em condições de navegar, carregaram-no de matéria combustível e incendiaram-no, afastando-se rapidamente na sua própria embarcação sem sofrer qualquer baixa. Foi uma arrojada operação anfíbia destinada a recuperar ou inutilizar o Philadelphia, no que se tornou o mais famoso episódio da chamada “Guerra de Trípoli”.

 

  • O que foi?

Ficou conhecida como “Guerra de Trípoli” ou “Primeira Guerra Barbaresca” o conflito que opôs os Estados Unidos da América aos chamados “estados barbarescos”, ou seja, as regências otomanas de Argel, Tunes e Trípoli e o sultanato de Marrocos, entre 1801 e 1805. Estes estados ou regências eram divisões administrativas do Império Otomano, ao qual estavam formalmente submetidos mas que na prática agiam como entidades políticas independentes.

A Europa mediterrânica possuía um longo historial de relacionamento com estas potências, que eram, desde há muito, importantes centros de comércio mas também de pirataria. No século XVIII, era motivo de indignação por toda a Europa a impunidade com que os piratas barbarescos assaltavam a navegação no Mediterrâneo, cativando e muitas vezes reduzindo à escravatura as tripulações ou passageiros dos navios ou exigindo o pagamento de avultados resgates. Foi, precisamente, o acentuar destas práticas sobre navios norte-americanos que conduziu à guerra entre os Estados Unidos e os estados barbarescos, em 1801.

 

  • E como terminou?

A operação de destruição do Philadelphia foi apenas um pequeno episódio, ainda que significativo, do conflito em curso. Assinale-se que outras potências, como a Suécia ou o reino de Nápoles, encontravam-se igualmente em guerra com os estados barbarescos por esta altura. A estratégia norte-americana era a de bloquear os portos inimigos e a capturar as respetivas embarcações, com o objetivo de forçar um tratado de paz.

Em julho de 1804, 5 meses depois do episódio do Philadelphia, os americanos atacaram Trípoli e no ano seguinte tomaram a cidade de Derna. Estes atos forçaram Yusuf Karamanli, o governador de Trípoli, a cessar as hostilidades e a assinar um acordo de paz. No entanto, as atividades predatórias dos estados barbarescos não cessaram e acabariam por conduzir a uma nova guerra com os Estados Unidos, em 1815. Este conflito ficou conhecido como a Segunda Guerra Barbaresca e assinalou a etapa final da atividade independente destes estados antes de caírem sob a alçada dos impérios coloniais europeus ainda durante a primeira metade do século XIX.

Ouça aqui outros episódios do programa Dias da História

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Os Dias da História - Operação anfíbia norte-americana em Trípoli, na atual Líbia
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paulo Sousa Pinto
  • Produção: Antena 2
  • Ano: 2018
  • Luta durante as guerras Berberes: Autor desconhecido