Santo Agostinho: mal como consequência do livre arbítrio

Santo Agostinho foi conhecido como o Platão cristão, porque recuperou, no espírito do cristianismo, a investigação e especulação platónica. O autor de A Cidade de Deus, a sua obra mais conhecida, apresenta como problema teológico o homem, a sua dispersão, a sua inquietude, crise e redenção.

Como é possível pensar que o mal exista e ao mesmo tempo acreditar num Deus, fonte de bem? Ao homem, Deus concedeu o livre arbítrio. É o próprio homem que convida o mal a entrar na sua vida, porque ele se reveste de prazer e alegria embora abra a porta ao sofrimento. O mal é coisa nenhuma, um buraco no bem e por isso não criado por Deus.

Por outro lado, o eu está em tudo. Em todos os dias, todos os apetites ou curiosidades eu estou em tudo, ao meu serviço, porque não posso ser eu sem mim.  Para Santo Agostinho, o homem, que pode convocar o mal pela sua escolha, pode também convocar Deus pela graça da fé mas também pela disciplina do método filosófico. O homem pode , assim, descobrir a alteridade de Deus, esse outro, que rompe a solidão humana projetando-o para fora de si mesmo, porque a solidão, essa, é o pecado e o mal.

Santo Agostinho nasceu em 354, na África romana, e passou a sua juventude entre Tagaste e Cartago. De temperamento rebelde, dedicou-se aos estudos clássicos e, aos 19 anos, uma leitura de Cícero, conduziu-o para uma vida de investigação filosófica. Aderiu à seita dos maniqueus e ensinou retórica até aos 29 anos na cidade de Cartago. Percorreu Roma e Milão, onde ensinou a disciplina, mas prosseguindo o estudo dos clássicos greco-romanos afastou-se do maniqueísmo, adoptando a verdade cristã. Em 387 recebeu o baptismo das mãos do bispo Ambrósio e a partir daí encetou uma busca pela verdade contra o erro.

Em 391, foi ordenado sacerdote em Tagaste e em 395 foi consagrado bispo de Hipona, dedicando-se a defender os princípios da fé contra os seus inimigos – o maniqueísmo, o donatismo e o pelagianismo. Em 426, Agostinho completa a sua obra-prima, A Cidade de Deus, que combate a teoria da fragilidade do império romano, por ter adotado o cristianismo, teoria emergente após o saque de Roma pelas hordas do rei visigodo Alarico. Santo Agostinho morreu em Hipona a 28 de agosto de 430.

“É um Clássico” é um programa da RTP2 em que o professor universitário António Caeiro comenta filosofia, filósofos e obras clássicas de forma informal. Veja neste episódio o seu comentário sobre Santo Agostinho.

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Ficha Técnica

  • Título: É um Clássico
  • Tipologia: Cultural
  • Autoria: António Caeiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2017
  • Imagem: Santo Agostinho, autor desconhecido, wikimedia commons