Sermão de frei António de Montesinos, em Santo Domingo

Por esta altura, os espanhóis já haviam estendido a sua presença à chamada Tierra Firme, ou seja, a região da América Central que é hoje a Nicarágua e o Panamá, e procediam à colonização das Caraíbas, sobretudo da Espanhola, onde tinham a sua capital. Estavam prestes a atingir a contracosta e a descobrir o Oceano Pacífico, que ocorreu dois anos mais tarde, em 1513.

A exploração da ilha Espanhola era feita de forma caótica e a bel-prazer dos conquistadores, sob o comando de Diego Colón, filho de Cristóvão Colombo. A população da ilha foi rapidamente dizimada, não apenas pela ação de epidemias trazidas pelos espanhóis, mas também pela forma violenta como estes exerciam o seu domínio. Foram estes abusos que António de Montesinos se insurgiu em dois sermões, proferidos a 21 e 28 de dezembro de 1511.

Esta denúncia foi feita de forma clara e direta, dizendo nomeadamente que, “todos vós estais em pecado mortal, e em pecado mortal viveis e morrereis, por causa da crueldade e tirania que usais com estas gentes inocentes”.

• Que efeitos teve?

O sermão foi ouvido pelos principais visados e causou grande escândalo, e o autor foi aconselhado a refrear o seu tom. Porém, António de Montesinos fez exatamente o oposto, no sermão da semana seguinte, no qual disse que os atos de violência era ilícitos e instou os espanhóis a libertar os escravos. O conflito entre os conquistadores e os missionários seguiu para a corte espanhola, onde causou grande polémica e discussão.

No ano seguinte o rei emitiu as chamadas Leis de Burgos, que introduziu as primeiras normas de proteção dos índios. A longo prazo, o sermão de António de Montesinos esteve na origem dos trabalhos de frei Bartolomeu de Las Casas e na formação de um importante grupo de juristas e teólogos que pressionavam a coroa de Castela no sentido de garantir a proteção dos direitos dos ameríndios.