Ver um buraco negro pela primeira vez

Mede três vezes o tamanho do sistema solar, tem uma massa 6,5 mil milhões de vezes superior à do Sol e fica a 55 milhões de anos-luz da Terra. Eis o buraco negro sem ficção científica, revelado na fotografia mais espetacular de sempre. Aquela que nunca poderás ser tu a fazer e a publicar no teu Instagram. E porquê? perguntarás intrigado. Porque mostra a sombra de um dos principais mistérios da física e foi captada por oito radiotelescópios espalhados pelo planeta. O que mais há a saber sobre este momento marcante para a ciência é contado aqui.

Um anel cor de laranja, brilhante e assimétrico, a ser engolido por um fundo negro. A imagem chega da longínqua galáxia M87, na constelação de Virgem, onde mora um dos objetos cósmicos mais fascinantes do Universo.

Esta primeira fotografia de um buraco negro, faz prova de vida da sua existência e confirma o que Einstein previra na Teoria da Relatividade Geral. Dizia o físico que estes fenómenos estariam rodeados por um anel de luz brilhante e teriam uma densidade tão elevada que a partir de um determinado ponto sem retorno, o chamado evento de horizontes, nem a luz conseguiria escapar ao seu poder gravitacional. Cem anos depois, a explicação do génio passou no teste do maior projeto de astronomia do mundo.

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O retrato genial

Conseguir o retrato de um buraco negro a 55 milhões de anos-luz da Terra é como ler um jornal que está em Nova Iorque a partir de Paris. A comparação foi estabelecida pela comunidade científica, no dia 10 de abril de 2019, quando a densa sombra escura surgiu perante os nossos olhos e fez história na ciência.

A complexa tarefa da equipa de mais de 200 cientistas do Even Horizon Telescope, em português, Telescópio do Horizonte de Eventos, começou há treze anos a ligar e sincronizar oito radiotelescópios espalhados em diferentes latitudes do globo, que funcionariam como um telescópio virtual do tamanho da Terra. Em 2017, já com as antenas apontadas ao alvo, os super gigantes estiveram cinco noites seguidas a armazenar cinco petabytes de dados, o equivalente a “uma coleção de selfies da vida inteira de 40 mil pessoas”. Depois foi “só” montar cada pedaço de imagem num puzzle astronómico, até conseguir a fotografia de um dos maiores buracos negros que podemos captar a partir do nosso planeta.

Cair na definição de buraco negro

O buraco negro que aparece na fotografia tem um diâmetro de 100 mil milhões de quilómetros, mede três vezes o tamanho do Sistema Solar e tem uma massa 6,5 mil milhões de vezes maior do que a do Sol.

O que ali vemos é um monstro a devorar um disco de poeiras e gás a uma velocidade e temperatura altíssimas, porque, por definição, um buraco negro nasce após o colapso de uma grande estrela e transforma-se numa massa tão densa que deforma o espaço-tempo à sua volta, engolindo toda e qualquer matéria que estiver por perto. Nem a luz nem as leis da física, tal como as conhecemos, escapam a estes fenómenos, tornando-os assim completamente invisíveis. O mais perto que alguma vez poderemos estar de um buraco negro será através de imagens como esta, que revela apenas a sombra de um dos maiores mistérios da Física.

O que parecia ser uma missão impossível acabou por concretizar-se com muitos anos de observações que trouxeram o buraco negro da M87 para a nossa realidade, para ser estudado e ajudar a compreender a história do universo. E, quem sabe, inspirar futuros filmes de ficção científica.

Nesta peça falam:
Heine Falke, professor de Radioastronomia e Física de Partículas
Luciano Rezzolla, Professor de Física Teórica
Rui Agostinho, Diretor do Observatório Astronómico de Lisboa
Carlos Moedas, Comissário Europeu de Investigação e Ciência

 

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Ficha Técnica

  • Título: Buraco negro
  • Tipologia: Peça Telejornal
  • Autoria: Pedro Zambujo /Patrícia Machado
  • Produção: RTP
  • Ano: 2019