Viagem aos bastidores do Zoo

Bem-vindo aos bastidores do Jardim Zoológico de Lisboa, um mundo de tarefas exigentes, cumpridas com dedicação e mantidas à distância dos visitantes. O horário de funcionamento começa muito cedo na quinta das Laranjeiras, a tratar e a alimentar mais de dois mil animais de cerca de 300 espécies diferentes. Fundamental é fazer com que se sintam em casa e, a avaliar pelas taxas de reprodução, parece que os bichos andam felizes para os lados de Sete Rios.

Ainda os grandes portões não se abriram ao público, já os animais do Zoo são o centro das atenções de mais de duas centenas de funcionários, preocupados em proporcionar-lhes uma vida em cativeiro que se aproxime o mais possível do seu habitat natural.

Dentro dos muros do Jardim, a manhã rompe numa azáfama organizada em diversas atividades, essenciais ao funcionamento do parque. No refeitório, um pequeno exército de mãos experientes segue à risca as exigências nutricionais de tão vasta clientela. O trabalho requer método e concentração: é preciso separar, cortar e cozinhar alimentos em quantidades gigantescas (mais de meia tonelada por dia!); consultar tabelas, distribuir as doses por tabuleiros e baldes devidamente identificados com o nome das espécies.

Os apetites vão ser saciados a seguir, por quem melhor conhece os bichos da casa. A equipa de tratadores entra em cena para depositar o pequeno-almoço nos recintos. O serviço exige doses de coragem temperadas com prudência. Dos mais temíveis aos mais tímidos, a todos é garantida a primeira refeição do dia, por vezes servida com uma pitada de criatividade, para estimular sentidos e instintos. Pendurar sacos de serapilheira com carne no alto de um poste para os tigres “caçarem” ou obrigar os chimpanzés a catar lagartas nos troncos, são formas de promover comportamentos semelhantes aos que estes animais teriam em liberdade.

Talvez seja por esta prática que em linguagem técnica se chama “enriquecimento ambiental”, somada a uma alimentação adequada, a espaços naturalistas e a cuidados veterinários constantes, que os animais selvagens do Zoo de Lisboa mostram a sua satisfação através de uma taxa de natalidade fora do comum, quando comparadas com as de outros parques da Europa. Mesmo as espécies mais raras, ameaçadas e difíceis de se reproduzir, surpreendem com novas crias. O leopardo-da-Pérsia, uma espécie extinta há meio século no seu país, reproduziu-se aqui com sucesso e, em 2012, foi devolvida às montanhas do Cáucaso.

Conservar e reintroduzir os animais selvagens no seu habitat, são missões cada vez mais abraçadas por esta instituição fundada em 1884, com o apoio real de D. Fernando II. Mas entre o primeiro Zoológico e o que hoje está implantado em Sete Rios, as diferenças são totais: já não há bichos enjaulados, elefantes a tocar o sino em troca de moedinhas, nem festas nos macaquinhos. E é proibido dar comida. O último visitante que desrespeitou a regra, provocou a morte a uma girafa. As maravilhas do mundo animal são agora para apreciar à distância, em absoluto respeito pelos seus direitos.

Dez da manhã. De barriga cheia e casa limpa, animais de geografias mais ou menos distantes e exóticas dão as boas-vindas a um novo dia de vistas. Mas o bilhete para os bastidores desta selva, só pode ser tirado nesta reportagem.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Linha da Frente - Selva na Cidade
  • Tipologia: Grande Reportagem
  • Autoria: Marta Jorge
  • Produção: RTP
  • Ano: 2018