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A burguesia industrial e a nova sociedade de classes

A burguesia industrial e a nova sociedade de classes

A alta burguesia assumiu um papel fundamental no mundo dos negócios e no desenvolvimento industrial. Detinham os meios de produção e capital para investir. Desenvolveram um estilo de vida próprio, chegando, nalguns aspetos, a imitar a antiga aristocracia com quem se fundiram através do casamento. Tinham códigos familiares, sociais e de conduta muito próprios, apresentavam o seu sucesso como fruto do trabalho árduo e eram moralmente conservadores.

As modificações económicas decorrentes da Revolução Industrial estimularam o aparecimento de uma nova sociedade. A velha sociedade de Antigo Regime, hierarquizada, com privilégios de grupo e onde a ascensão social era uma tarefa quase impossível, foi desaparecendo progressivamente à medida que a nova estrutura política, económica e financeira se foi consolidando.

A nova sociedade oitocentista baseava-se nos princípios liberais: o homem nasce livre e igual em direitos; não havia distinções pelo nascimento; a igualdade perante a lei; o individualismo como marca de atuação; a ascensão social através do mérito e direitos políticos baseados na riqueza e no estatuto social. A sociedade de ordens do Antigo Regime deu lugar à sociedade de classes. Estamos perante uma sociedade heterogénea onde o estatuto económico determinava a posição de cada um, a capacidade de trabalho e o mérito permitiam a mobilidade social.

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Esta nova sociedade era liderada pela burguesia., um grupo que tinha uma enorme diversidade.

No topo encontramos a alta burguesia financeira, industrial e agrícola que desenvolveu um estilo de vida próprio. O burguês era caracterizado como aquele indivíduo que tinha rendimentos, desafogo financeiro que lhe dava segurança, tinha instrução acima da média e desempenhava funções em áreas de decisão política e financeira. Quanto maior controlo sobre os meios produtivos tinha ou mais lucrativa fosse a função exercida, maiores eram as possibilidades de ascender socialmente e de beneficiar de uma educação de alta qualidade, possibilitando uma vida de conforto e de luxo

Muitos destes novos elementos vinham já em ascensão social na parte final do Antigo Regime. Damos o exemplo da família Perier, em França: 1.ª geração, cerca de 1730 comercializava panos em feiras na França rural, comprou terras e outros bens; 2.ª geração, décadas de 1780 e 1790, exportava panos e fundou uma fábrica de papel, compraram bens imóveis a nobres arruinados, com a revolução apostaram em fábricas de armamento, compraram bens nacionais, investiram na banca e apoiaram Napoleão; 3.ª geração, oito foram deputados, compraram fundições, equiparam minas, criaram o banco Périer em Paris e em 1832 Casimir Perier foi primeiro-ministro; 4.ª geração continuou na gestão bancária e um membro da família foi ministro em 1871 e, finalmente, na 5.ª geração continuaram a controlar bancos, várias empresas metalúrgicas e mineiras, Jean Casimir Perier chegou a Presidente da República (1894-95). A par da família Perier podíamos também apresentar outras como: os Thyssen, os Krupp, os Agnelli ou os Pirelli.

O caso dos Perier mostra a ascensão de uma família de negociantes no final do Antigo Regime que se tornaram elementos da alta burguesia no século XIX. O dinheiro determinou a ascensão ao patamar mais elevado da sociedade, apostando no mercado financeiro, bolsa e bancos, na indústria, na agricultura e na política. Tentaram mesmo copiar a antiga aristocracia, comprando os seus palácios, transformando-os nas suas residências e chegando mesmo a casar com elementos da antiga nobreza arruinada. Os dois mundos só viram vantagens nesta união, se a nova classe tinha dinheiro e procurava o prestígio social, a velha aristocracia pretendia manter a sua posição social, agora noutros moldes.

A alta burguesia tinha comportamentos próprios, formava um grupo altamente influente, tinha valores e atitudes especificas e tentou reproduzir a sua forma de vida pelas sucessivas gerações. O seu estilo de vida era opulento: casas luxuosas, com muitos empregados que admiravam a riqueza dos patrões que também os sustentava; tinham o culto do bem-vestir; uma vida organizada e, por vezes, bastante repetitiva; vida familiar invejada e salutar, pelo menos aparentemente e grande ostentação material, com várias casas espalhadas pelas cidades e zonas rurais.

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Podemos apresentar como valores da burguesia: a família; o trabalho; a poupança; o respeito pela hierarquia familiar; o sentido de casta que se estendia à solidariedade entre irmãos e parentes.

A alta burguesia tinha consciência de classe, percebia o seu poder social, usava-o em seu benefício e era, moralmente, conservadora, procurando manter o dinamismo comercial dentro da família, perpetuando o nome e o prestígio. Fazia questão em demarcar-se das elites do Antigo Regime, ociosas e dependentes dos benefícios reais, apresentando a sua ascensão como fruto do trabalho, da iniciativa do esforço pessoal que nada devia ao privilégio do nascimento.

Síntese:

  • A velha sociedade de Antigo Regime, estratificada em grupos sociais, deu lugar à sociedade de classes.
  • A nova sociedade de classes organiza-se de acordo com a riqueza de cada um, sendo o mérito a base da ascensão social.
  • A alta burguesia dominava a nova sociedade, tinha um código de conduta, eram conservadores nos valores e tinham uma grande consciência de classe.

Temas

Ficha Técnica

  • Área Pedagógica: Descrever as características fundamentais da burguesia (comercial e financeira, industrial e agrícola) no século XIX. Identificar os processos de fusão entre a burguesia emergente e parcelas significativas das elites tradicionais.
  • Tipologia: Explicador
  • Autoria: Associação dos Professores de História/Nuno Pousinho
  • Ano: 2021
  • Imagem: Alfredo Krupp, 1877