Cartas de Amor de poetas e soldados
Muitas cartas de amor ficaram célebres. Porque revelam mais de quem as escreveu e nos contam histórias de intensa paixão. Ou de separação, a dor de vidas interrompidas pela guerra. Aqui falamos dos aerogramas do ultramar, de Fernando Pessoa e de Mariana Alcoforado.
Todas as cartas de amor são ridículas, disse o poeta. Serão? Fixar o amor em palavras, expressar sentimentos amorosos, confessar a paixão que devora o corpo, requer coragem pela exposição íntima que se oferece. Ridículas, verdadeiras, corajosas, com mais ou menos valor literário, são também elas que se fazem vozes de outras épocas; cartas que não foram escritas para nós nem por nós, mas que nos ajudam a ler melhor o passado. E quem as escreveu.
Acontece isso mesmo na correspondência trocada entre Fernando Pessoa e Ofélia Queirós, o “bebé pequenininho”, em que descobrimos o poeta, considerado frio e distante, um sedutor apaixonado e romântico.
Atrás na história, no século XVII, cinco cartas atribuídas a Mariana Alcoforado endereçadas a um cavaleiro francês, revelam o amor que consome e faz sofrer a jovem freira, que abertamente assume paixão e erotismo, temas que as mulheres não podiam nem se atreviam a falar em público. Mais de trezentos anos depois, estas “Cartas Portuguesas” inspiram três escritoras a reclamar o direito da mulher a ter um corpo e pensamento. A obra de Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta marca o fim ditadura.
E foi na ditadura, durante a guerra colonial, que milhares de outras cartas foram escritas e salvaram soldados, porque dentro delas viajava a esperança em letra miudinha. Forçados a combater em Angola, Moçambique e na Guiné, estes jovens portugueses eram arrancados das famílias, dos sonhos, do futuro. O correio que vinha da metrópole podia ser incerto e irregular, mas era como um fio que os mantinha ligados a essa vida.
Os famosos aerogramas ajudava-os a suportar o absurdo da guerra, o pesadelo de poder encontrar a morte no instante a seguir. A escrita era um ritual quase diário para dizer amor, saudade, ânimo ou descrever uma frente de batalha. Receberam estas cartas de amor o desígnio de ajudar a contar a história de uma guerra que durou catorze anos e que só terminou com a Revolução de Abril. Muitas podem ser lidas no Museu da Guerra Colonial, em Vila Nova de Famalicão, como se vê neste vídeo.
Ficha Técnica
- Título: Literatura Agora
- Tipologia: Reportagem
- Autoria: RTP2 / até ao Fim do Mundo
- Produção: até ao Fim do Mundo
- Ano: 2015