A suspensão das conferências do Casino
As conferências democráticas, também conhecidas como conferências do casino, foram organizadas por um grupo de intelectuais portugueses (a geração de 70) que pretendia debater os problemas do país e aproveitar a onda de mudança que se vivia noutros pontos da Europa. A coroa, no entanto, acabou por as interromper, receando o seu impacto na igreja e na governação.
No dia 18 de junho de 1871 o marquês de Ávila e Bolama, que acumulava as funções de primeiro-ministro e ministro do Interior, emitiu uma portaria onde se podia ler: “tendo chegado ao conhecimento de Sua Majestade (…) que no Casino Lisbonense (…) se celebram uma série de preleções em que se expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições políticas do Estado, e sendo certo que tais factos, além de constituírem um abuso do direito de reunião, ofendem clara e diretamente as leis do reino e o código fundamental da monarquia, (…) determina (…) que o governador civil de Lisboa não consinta as referidas reuniões e conferências (…) sob pena de se proceder contra os transgressores na conformidade das leis”.
Foi desta forma abrupta, e por imposição governamental, que foi interrompida uma iniciativa promovida por um conjunto de notáveis e intelectuais portugueses que pretendia debater o passado e o presente de Portugal num ciclo de palestras e conferências.
- Quais eram os objetivos dessas Conferências do Casino?
Em maio de 1871, um grupo de jovens escritores e intelectuais, entre os quais se encontravam Antero de Quental, Eça de Queiroz, Oliveira Martins e Teófilo Braga, subscreveram um manifesto onde davam conta da necessidade de renovar o panorama literário português, refletir sobre os problemas políticos e sociais de Portugal e debater as novas ideias que emergiam por toda a Europa e que em Portugal tinham pouco impacto.
Era sua intenção realizar, no Casino Lisbonense – que ficava no atual largo Rafael Bordalo Pinheiro, em Lisboa – um conjunto de dez “conferências democráticas”, como foram chamadas, a primeira das quais teve lugar a 22 de maio, por Antero de Quental.
Apenas foram feitas cinco, uma vez que a 26 de junho, a ordem de proibição inviabilizou a realização das restantes. A decisão do governo foi um ato de censura e uma tentativa de impedir a difusão das novas ideias, nomeadamente o socialismo, que eram consideradas subversivas e uma ameaça à religião e aos interesses do estado e da monarquia.
- Qual foi a reação dos conferencistas?
A suspensão das Conferências do Casino causou uma reação violenta por parte dos organizadores e simpatizantes da iniciativa, desencadeando uma polémica na imprensa entre os que defendiam a liberdade de expressão e de reunião e os que apoiavam a medida do governo.
Ficou claro, por esta altura, que existia uma clara rutura entre uma nova geração de escritores e intelectuais – que viria a ser chamada de “Geração de 70” – e os setores mais conservadores da política e da sociedade portuguesa.
Esta rutura entre renovadores e conservadores havia já sido anunciada numa polémica literária ocorrida na década anterior, e que ficou conhecida como a “Questão Coimbrã”.
As Conferências do Casino marcaram, portanto, a afirmação pública de um grupo de jovens críticos do sistema, que defendiam uma nova estética, uma nova literatura e uma nova ciência social e política, e constitui um momento fundamental da renovação cultural do Portugal do século XIX.
Ouça aqui outros episódios do programa Dias da História
Ficha Técnica
- Título: Os dias da História - A suspensão das Conferências do Casino
- Tipologia: Programa
- Autoria: Paulo Sousa Pinto
- Produção: Antena 2
- Ano: 2017
- Fotografia: Vencidos da Vida. P. Marinho, 1900