“Livro do Desassossego”: a leitura de João Botelho
O livro dos sonhos e das inquietações do ajudante de guarda-livros que morava num quarto andar da Baixa de Lisboa, é uma espécie de anti livro. Porque é sem princípio, meio ou fim. Um labirinto inclassificável que Fernando Pessoa nunca chegou a terminar. Bernardo Soares cumpriu assim a vontade do seu inventor nestas páginas desassossegadas. João Botelho, que teve a ousadia de fazer um filme desta obra impossível, diz nunca ter lido nada assim.
Fernando Pessoa trabalhou neste livro durante toda a sua vida. Obra inacabada, um projeto sem enredo definido, assinado por Bernardo Soares. “É um semi-heterónimo”, escreveu o poeta na carta de 13 de janeiro de 1935 a Adolfo Casais Monteiro, “porque, não sendo a personalidade minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela”, e, remata, “sou eu, menos o raciocínio e a afetividade”.
Quem fala nestes fragmentos de prosa é Pessoa ou o simples guarda-livros que chegou a encontrar-se com o seu inventor numa casa de pasto, na Baixa de Lisboa? Tudo é indefinido e difuso neste Livro dos desassossegos que desassossegaram Pessoa e Soares, matéria rara que impressionou João Botelho. Para o cineasta estamos perante um tratado de música, “basta dividir as orações”, diz.
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Ficha Técnica
- Título: Os Livros
- Tipologia: Programa sobre Literatura
- Produção: RTP3 / Framed Films
- Ano: 2016
- Edição e Apresentação: Inês Fonseca Santos