Mártires de Marrocos: o confronto entre cristãos e mouros
Em 1220, cinco frades franciscanos foram martirizados pelo Islão por difundirem a fé cristã. O episódio deu origem a um culto, reavivou ódios e contribuiu para intensificar o espírito de cruzada contra os infiéis. A Reconquista passou a assumir-se como uma guerra santa para expulsar da ibéria os que rejeitavam o Evangelho. Neste século de grandes conflitos e tensões, de maior intolerância religiosa, o reino de Portugal avançava para sul e consolidava o seu território. A expansão iria continuar depois no norte de África, para onde os mouros tinham sido empurrados.
Apesar dos grandes conflitos e tensões abertas entre cristãos e muçulmanos em território peninsular, a convivência entre as duas religiões foi marcada por alguma tolerância durante os séculos da Reconquista. Houve, no entanto, um retrocesso, uma radicalização de posições que começou no episódio dos frades italianos, que a 16 de janeiro de 1220 passaram por terras lusas a caminho de Marrocos onde iam pregar a fé cristã e onde acabaram decapitados na cidade de Marraquexe pelo próprio califa, Abu Yusuf al-Mustansir, por cá conhecido como Miramolim. O martírio dos franciscanos acabou por ter um aproveitamento religioso, ajudando o Papa nas suas intenções de promover junto dos reis católicos uma guerra santa contra os infiéis.
A história dos primeiros martirizados do Islão identificou os árabes como inimigos e conquistou uma devoção popular. Quando a maior parte das relíquias foi depositada no Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra, onde estavam enterrados os primeiros reis de Portugal, os cinco religiosos passaram a ser tratados como santos nacionais. O culto aos mártires acompanhou os últimos anos da formação do reino, a expansão para o norte de África, e perpetuou-se nas procissões que ainda hoje se realizam em Travassô, no concelho de Águeda.
Passados 800 anos, os Mártires de Marrocos voltaram para evocar o passado de dois mundos em confronto, numa exposição realizada no Museu de Arte Antiga, em 2020. Uma das peças que esteve em destaque e que ajudou a difundir o culto foi esta pintura de Francisco Henriques, pintor de D. Manuel I, a representar o momento da execução. A partir desta tábua do Retábulo de São Francisco de Évora, uma igreja conventual, mas também a igreja do palácio do rei, temos Joaquim Oliveira Caetano, diretor do Museu, a contar outros pormenores desta história.
Ficha Técnica
- Título: Nada Será Como Dante
- Tipologia: Extrato de Programa Cultural
- Produção: até ao Fim do Mundo
- Ano: 2021