A Arte da Cura
Antibióticos: da penicilina à multirresistência
Ar puro era o único tratamento para a tuberculose até a penicilina de Fleming abrir caminho aos antibióticos. Cura para quase tudo, passámos a tomá-los em excesso e, em poucas décadas, as bactérias tornaram-se resistentes. Está em risco o que a medicina conseguiu com uma das maiores conquistas e é urgente encontrar alternativas. A solução pode estar nos vírus.
É considerada uma das maiores descobertas de sempre. Os antibióticos vieram salvar a humanidade das doenças infeciosas que eram a grande causa de morte até à chegada da penicilina. Alexander Fleming descobriu o poder dos fungos contra as bactérias em 1928, mas só uma década depois é que a penicilina começou a ser usada em massa. Foi uma ajuda fundamental durante a Segunda Guerra Mundial e apresentou-se como a cura para o grande mal: a tuberculose.
As décadas que se seguiram foram de grande expansão para a indústria farmacêutica. Uma enorme variedade de antibióticos começou a ser produzida e, para se ter uma ideia do seu uso, na década de 60, em Portugal, metade do orçamento hospitalar para medicamentos era gasto nestes fármacos. Mas o feitiço iria virar-se contra o feiticeiro – o uso abusivo acabaria por se revelar o princípio de uma nova epidemia: a das bactérias multirresistentes.
Hoje morre-se outra vez de infeções, em particular das contraídas em ambiente hospitalar. A multirresistência microbiana é um problema mundial de saúde pública. No corpo humano vivem cada vez mais bactérias que, muitas vezes silenciosas, aguardam por uma oportunidade para atacarem. No século XXI, um terço da população vive com o bacilo da tuberculose, que voltou em força, depois de ter ganho resistência aos antibióticos.
A luta é agora por alternativas. No meio científico, muitos consideram estarmos já a viver numa era pós-antibiótico. É na natureza – como quase sempre quando se fala de cura – que se procuram novas soluções e elas podem surgir dos vírus. De resto, há décadas que se conhecem as capacidades da fagoterapia – o uso de “vírus amigáveis” capazes de infetarem bactérias. No fundo, provocar no corpo humano uma batalha entre microrganismos capazes de deixarem as células intactas.