O Infante D. Henrique e o mito da Escola de Sagres
Visionário, aventureiro, empreendedor. Tudo isto foi o quinto filho de João I e de Filipa de Lencastre. Com ele começou a grandiosa era dos Descobrimentos. Mas ao contrário do que se diz, as caravelas do infante não partiram de Sagres à conquista do mundo.
O desejo de expansão do comércio e do cristianismo conduziu o Infante D. Henrique ao sonho aparentemente impossível de chegar a terras desconhecidas e misteriosas, de existência vaga em informações imprecisas. Depois da feliz expedição a Ceuta em 1415, projeto em que se envolvera com afinco, mais confiante e determinado ficara na vontade em iniciar as empresas marítimas.
Por sua iniciativa, na primeira metade do século XV navegadores portugueses começaram a explorar a costa ocidental de África e a aventurarem-se nas águas “ferventes” do Atlântico, povoadas de monstros inimagináveis. As viagens eram arriscadas, os homens tinham medo, mas o infante cognominado “o Navegador” nunca pensou em desistir. Por doze anos manda ao mar navios para descobrir o que estava além do Bojador e, em 1434, Gil Eanes consegue a façanha de dobrar o cabo. A partir daqui, a geografia do mundo mudou.
Para vencer correntes e marés, investe em formação, conhecimento e experiência. Decide criar em terras do Algarve uma escola. Porém, ao contrário do que se pensa e diz, não foi em Sagres que juntou os mais avançados especialistas em matéria de navegação. Na época, a fortaleza onde acabaria por morrer aos 66 anos, nem sequer existia: apenas as falésias escarpadas onde nenhum barco conseguiria atracar e o promontório de S. Vicente, conhecido na Antiguidade como Promontorium Sacrum. Tudo o resto era deserto. Ali, estava-se no extremo sudoeste da Europa, no fim do mundo.
Era muito perto, a cerca de vinte quilómetros, que ficava o local que considerou apropriado para tal empresa. A vila de Lagos, a povoação que foi capital do reino dos Algarves, tinha uma baía larga, ideal para navegar e, para além da sua proximidade com a costa de Marrocos, tinha gente habituada a pescarias difíceis em mar alto. Ali fundou uma escola náutica, onde cartógrafos, astrónomos e navegadores recrutados em diversos países, desenvolviam novas técnicas, desenhavam cartas náuticas e projetavam barcos mais velozes.
Escola e campanhas são pagas do seu bolso, grande parte era coberta com dinheiros e rendas que recebia da Ordem de Cristo, de que era governador. Porém, a partir de determinada altura, começa a arrecadar o «quinto», ou seja, vinte por cento das mercadorias que chegavam a Lagos, onde também teve lugar o primeiro mercado de escravos negros capturados em África. A expansão começava então a ser um bom e lucrativo negócio.
Da vila de Lagos partiram as caravelas que nasceram do sonho de um homem místico, de ar austero, com as suas vestes negras e chapéu de abas largas, a acreditar que é ele que está representado nos painéis de Nuno Gonçalves. A era dos Descobrimentos, que tantos protagonistas teve, começou com D. Henrique, o infante que ficamos a conhecer melhor nesta visita guiada com o historiador João Paulo Oliveira e Costa.
Ficha Técnica
- Título: Visita Guiada - O Infante D.Henrique e a Fortaleza de Sagres
- Tipologia: Programa Cultural
- Autoria: Paula Moura Pinheiro
- Produção: RTP
- Ano: 2015