A Casa dos Estudantes do Império
A Casa de Estudantes do Império é mais um projeto do Estado Novo no qual o feitiço se virou contra o feiticeiro. Foi fundada com o intuito de preservar a unidade imperial das origens de todos os estudantes que vinham para a metrópole, mas acabou por ser o ninho onde se criaram muitas das personalidades que dariam rosto aos movimentos de libertação das colónias.
A história da Casa dos Estudantes do Império é uma ironia em si mesma. Apadrinhada pela Mocidade Portuguesa e financiada pelo Ministério das Colónias, iria ser, durante duas décadas, o principal foco de agitação anticolonialista na metrópole. Fui fundada em 1944, em Lisboa, com o objetivo de formar a elite intelectual do ultramar. Acabou por ser tornar central na consciencialização política de muitos que combateram o regime salazarista.
Grandes nomes dos futuros movimentos independentistas dos territórios colonizados passaram pela Casa. Numa primeira fase, ainda na década de 1940, a subversão contra faz-se notar através da que ficaria conhecida como a “geração mais velha”, com nomes como Agostinho Neto e Lúcio Lara (Angola), Amílcar Cabral (Guiné-Bissau), Marcelino dos Santos (Moçambique) e Alda do Espírito Santo (São Tomé e Príncipe).
A atividade cultural da Casa dos Estudantes do Império fomentou as identidades e originou o novo nacionalismo de cada futuro país independente. Oito anos depois de ter aberto portas, já se colocava de forma clara, por parte do governo português, a possibilidade de dissolver a instituição. A PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) não larga os estudantes, o que de nada serviu a não ser para fomentar mais a luta antifascista e a afirmação anticolonial.
Em finais da década de 50 e inícios de 60 são criados os movimentos de libertação nas províncias do ultramar e na Casa publicam-se escritores como José Craveirinha, Luandino Vieira e Viriato Cruz, entre muitos outros. Textos nos quais se assume a estrutura identitária, culminando com a publicação de uma mensagem ao povo português onde se exige a autodeterminação dos povos subjugados, a retirada das forças armadas dos territórios africanos e liberdade política.
Em 1963, é cortado o financiamento do Estado à Casa dos Estudantes do Império, que acaba por ser encerrada dois anos depois, com todo o material nela existente a ser confiscado pela PIDE. No mesmo ano é assassinado Humberto Delgado, antigo candidato presidencial da oposição ao regime e que tinha tido forte apoio dos estudantes. Começava a fase moribunda da ditadura portuguesa.
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Ficha Técnica
- Título: História a História África - Casa dos Estudantes do Império, episódio 8
- Tipologia: Documentário
- Autoria: Fernando Rosas
- Produção: RTP / Garden Films
- Ano: 2017