A vida em Tancos pelos olhos dos jornais… censurados
Depois da instrução preliminar, realizada a nível regional, reuniram-se as tropas em Tancos para a fase final da instrução, mas a falta de disciplina de muitas praças e de liderança de muitos oficiais fez com que até a marcha para Tancos arrancasse atrasada.
Depois da destruição do exército profissional monárquico, em 1910, e com a conversão do exército em “povo em armas” a capacidade militar portuguesa ficou seriamente ameaçada, mas com a ajuda da mensagem da propaganda e da censura foi possível construir a ficção do “Milagre de Tancos”.
Foi contra a propaganda anti-guerrista, a relutância de muitos oficiais e a resistência das mulheres, que foi possível reunir vinte mil homens em Tancos. Quase metade destes recrutas era analfabeta vinda de uma existência rural precária.
Em Tancos, esperava-os uma instrução militar deficiente, sob o calor tórrido do Verão.
Cá fora falava-se no número de doentes, de incidentes vários e de infracções, mas para os que estavam lá isso não passavam de “más línguas” até porque “a disciplina é a melhor” e, obviamente, “pequenas infracções acontecem em toda a parte”.
Outros asseguravam que os soldados eram um “imenso rebanho de crianças … de uma docilidade e de uma disciplina inexcedíveis”.
Quanto às águas inquinadas, a uma epidemia de tifo, a doentes e mesmo mortos ia recado para o jornal: “diga lá no seu jornal que em Tancos não há mortos, nem epidemias. Só nos morreu até agora um soldado”.
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Ficha Técnica
- Título: Postal da Grande Guerra - Viver em Tancos II
- Tipologia: Programa
- Autoria: Sílvia Alves
- Produção: RTP
- Ano: 2016