Antero de Quental: retrato de um poeta deprimido

Eis o retrato que nos devolve o lado mais sombrio e atormentado do poeta dos sonetos, figura tutelar da Geração de 70. Columbano Bordalo Pinheiro pintou-o em 1889, quase como um fantasma a sair da escuridão. Dois anos depois, Antero, doente, deprimido e desiludido com o rumo do país, suicidava-se. Uma tragédia que este quadro negro parecia anunciar.

Do fundo negro emerge um rosto cadavérico, espectral. O retrato é intimista e inquietante, como uma radiografia psicológica aos últimos anos de vida do retratado. Antero de Quental, mentor de uma geração de intelectuais, defensor de ideias novas inspiradas no socialismo, crítico feroz das instituições e tradições que sufocavam Portugal, orador temível, mostrava-se agora vencido. Ou descrente no futuro que idealizara. O espírito do poeta que tinha um lado noturno, pessimista, depressivo, era potenciado pela grave crise económica, política e social que o país atravessava na última década do século XIX.  

Columbano Bordalo Pinheiro pressentiu o tumulto interior no seu modelo e, como aprendera com os tenebristas espanhóis que vira no museu do Prado, vai usar a iluminação para o mostrar. A técnica evidencia a alma do poeta e o talento do autor. Mas não será apenas Antero o único retratado desta forma expressiva e densa; outras grandes figuras nesta viragem de século surgem nas telas de Columbano representadas da mesma forma misteriosa. Obras de quem pinta o que sente, mais do que aquilo que vê. Aqui reside, salienta Maria de Aires Silveira, historiadora de arte, a modernidade deste grande pintor.

Temas

Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada - Museu Nacional de Arte Contemporânea: Museu do Chiado
  • Tipologia: Excerto de Programa de Cultura Geral
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2014