Aprendendo a escavar uma trincheira
Durante o treino em Tancos foram escavados quilómetros de trincheiras, uma técnica que já era utilizada na defesa, mas que durante a I Guerra Mundial se transformou na forma de combater na frente europeia.
O Polígono Militar de Tancos era ideal para o treino devido à sua localização, entre o Tejo e o Zêzere, ambos abundantes fontes de água. A linha do comboio estava igualmente próxima, pormenor essencial para o transporte dos soldados, seu equipamento e outro apoio de que necessitavam. Cerca de 20.000 homens, de todas as condições sociais, foram mobilizados e acabaram enviados para este campo com o objetivo de receberem treino militar.
O acampamento ficou conhecido como “cidade de Paulona”, nome derivado das estruturas de pau e lona construídas para abrigar os soldados. O esforço foi comandado pelo ministro da Guerra, general Norton de Matos, assessorado pelo general Tamagnini e ficou conhecido como ‘Milagre de Tancos’ – uma expressão cunhada por Norton de Matos nos seus relatórios -, pois em escassos três meses, milhares de civis transformaram-se, oficialmente, em soldados.
A Revista Portuguesa de 3 de julho de 1916 noticiava: “a propósito de Tancos, não há dúvida de que nos podemos envaidecer pelo nosso exército. Tudo ali, no dizer dos visitantes, que têm sido milhares, é perfeitíssimo; em poucos dias preparou-se parte desse exército para a guerra moderna, pelo poder de adaptação que é uma das mais notáveis qualidades do português, matéria-prima eminentemente própria para todas as grandezas. E se acontece que uma ou outra vez a obra sai aleijão, a culpa não é da matéria, de plasticidade admirável: é dos moldadores”. No mesmo número pode ler-se uma extensa reportagem entusiasmada sobre a vida no Polígono.
A realidade era diferente da propaganda. O ‘milagre’ foi um misto de organização e improvisação e o maior problema eram os próprios militares falhos de disciplina e coesão, pouco entusiasmados com a ideia de combater uma guerra europeia. A própria instrução militar era muito difícil, uma vez que 48 por cento dos mobilizados eram analfabetos e apenas 0,6 por cento tinha instrução secundária.
Depois de uma primeira parte da instrução militar básica, iniciou-se outro período, mais de acordo com o que então se passava na Europa: a guerra de trincheiras. É nesta fase que surge este postal, ficcionado, sobre um descendente que recorda em Tancos de agora o que viveu ali um seu avô, há 100 anos e como eram as trincheiras que aprendeu ele a fazer.
Após três meses de instrução, os homens regressaram aos campos e às cidades e só foram chamados para embarcar passados seis meses, já em 1917. Perdeu-se desta forma assim o “Espírito de Corpo” que se tinha conseguido criar no escasso treino.
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Ficha Técnica
- Título: Postal da Grande Guerra - Como se faz uma trincheira
- Tipologia: Programa
- Autoria: Graça Andrade Ramos
- Produção: RTP
- Ano: 2016