Carlos Relvas: retrato do fotógrafo amador

Secundário

Em meados do século XIX, ainda a fotografia era uma invenção recente, já Carlos Relvas reproduzia o pequeno mundo da Golegã na sua câmara-escura. Tirou centenas de retratos, autorretratos, fotografou paisagens, tudo captava com mestria o pioneiro desta Arte em Portugal. E fez mais: mandou construir uma Casa-Estúdio de arquitetura exemplar, hoje única no mundo.

O talento natural que tinha, os conhecimentos que aperfeiçoou, o tempo e a fortuna que investiu nesta paixão, fizeram de Carlos Relvas fotógrafo celebrado a nível nacional e internacional. Este primeiro amador da fotografia em Portugal – amador aqui com o sentido de maior –, construiu um palacete de ferro e vidro, obra exemplar dedicada à arte que havia de cultivar durante toda a vida.

O estúdio onde trabalhava a nova técnica de fixar imagens, ficava no primeiro piso do imponente edifício que idealizara e o arquiteto Henrique Carlos Afonso concretizara. Inovador, como a fotografia que o fascinava, o estúdio era peça central deste jogo de luz e sombra, espaço sofisticado e equipado com o que havia de melhor para dar a ver o que os seus olhos viam. Nada faltava ao abastado agricultor da Golegã para se aventurar nesta disciplina, experimentar efeitos originais, afirmar-se como fotógrafo do seu tempo.

Ao longo da vida havia de tirar centenas e centenas de fotografias, de revelar um estilo próprio que acabou por lhe dar visibilidade e trazer prestigiados prémios de todo o mundo. Fossem retratos de reis, camponeses ou mendigos, paisagens, animais ou monumentos, Carlos Relvas era um criador de imagens que se distinguiam pela qualidade e pelo cuidado que colocava na composição. Mas, para além do objetivo artístico, o hábil retratista fez da fotografia um documento ao serviço da identidade nacional. O levantamento que fez do património, de obras de arte em mau estado de conservação, é um dos legados mais valiosos da história do fotógrafo pioneiro que também sabia estar à frente da câmara.