Como Irene Lisboa retratou gentes e paisagens da grande Serra

Antes de escrever sobre a serra, Irene Lisboa foi escutá-la. Como uma antropóloga em trabalho de campo, entrou no mundo das aldeias de granito, conviveu com as suas gentes, observou-lhes as vidas marcadas pela escassez, seguiu o rasto a uma ruralidade moldada no rigor das estações. Incluiu-se na paisagem da Estrela e foi acolhida na intimidade do "gentio serrano", assim o trata no volume de crónicas publicado em 1960, dois anos após a sua morte. Conhecer os lugares por onde andou é o início de uma caminhada para encontrar a escritora de prosa e poesia, também ela nascida numa aldeia perto de Arruda dos Vinhos.

Os lugares não estarão exatamente como Irene Lisboa os descobriu no século passado e os contou nas suas crónicas. Os tempos são outros para a serra, menos duros para o povo serrano que, nos anos 60, começou a abandonar as aldeias em busca de vidas melhores. Ficaram poucos agricultores e ainda menos pastores na paisagem granítica da Estrela, marcada por trilhos que se percorrem a pé, envolvidos por uma beleza natural, essa sim, mantida intacta.

Voltemos então ao cenário que Irene Lisboa percorreu e imortalizou nas páginas desta sua obra, para reencontramos a história da escritora que gostava de observar as pequenas coisas do mundo, da pedagoga proibida de dar aulas pelo regime de Salazar, que viu artigos seus serem censurados e recorreu a pseudónimos para assinar alguns dos livros que escreveu, muitos publicados a expensas suas. A caminhada inspirada na literatura começa agora.

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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural - Reportagem
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2021