“Decameron”: as histórias prodigiosas de Boccaccio

“Decamaeron” é um exorcismo à morte, prosa composta para lhe escapar, como se o ato de inventar histórias pudesse ser a única salvação da humanidade. A morte é real e devastadora, chama-se peste negra e vai dizimar um terço dos habitantes da Europa Medieval, um número ainda incerto de muitos milhões de pessoas. Quando a pandemia chega à República de Florença, em 1348, Giovanni Boccaccio afasta-se da terra natal. 

Representação de Boccaccio na fuga à peste

À semelhança dos seus jovens narradores, o escritor refugia-se no campo para se salvar da doença contagiosa. Começa então o tempo das histórias, para fugir também ao tédio da paisagem toscana, talvez. A ficção inspirada na tradição, faz um retrato do seu tempo e época, mas sem preconceitos de ordem moral.

As sete donzelas e os três mancebos desfiam durante dez noites novelas de vícios e virtudes, com pessoas reais, “de carne e osso”, sublinha neste episódio da “Volta ao Mundo em Cem Livros” a jornalista Alexandra Lucas Coelho. Cem aventuras para afirmar a vida contra a morte. Embora nem tudo seja vício, erotismo, sátira, perversão ou transgressão, a Igreja quis queimar o livro, hoje clássico da literatura universal.  

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