Fernando de Azevedo: ocultar para mostrar
Cofundador do Grupo Surrealista de Lisboa, figura importante do Abstracionismo em Portugal, Fernando de Azevedo dedicou a vida à Arte e aos artistas. Utilizou a prática da ocultação, técnica que explicamos a seguir.
Pintor, ilustrador, designer gráfico, criador de cenários, prefaciador de catálogos ou ainda curador. Em toda a sua vida Fernando de Azevedo é múltiplo de si próprio e, em tudo o que faz, revela uma ligação umbilical à Arte.
A mão está feita para o desenho, para chegar a essas paisagens interiores que o assaltam estuda na Escola António Arroio e depois na Escola de Belas-Artes de Lisboa, mas aqui abandona o curso porque o que lá era ensinado estava, no seu entender, ultrapassado.
Um homem assim, de espírito livre, insubmisso e inconformista, só podia ligar-se ao movimento que tinha começado com André Breton, em França, em 1919. Fernando de Azevedo é um surrealista e, como tal, em 1947, ajuda a criar o Grupo Surrealista de Lisboa juntamente com outros nomes relevantes: Alexandre O´Neill, Mário Cesariny, Marcelino Vespeira, José-Augusto França, Moniz Pereira, António Dacosta e António Domingos. Dois anos depois participa na primeira exposição do grupo e, por fim, realiza uma última mostra com Fernando Lemos e Vespeira.
Na fase surrealista, Fernando de Azevedo (1923-2002) desenvolve a técnica favorita desta corrente, a colagem, que explora os automatismos do inconsciente. Mas é sobretudo com as suas “ocultações”, que deixa um contributo singular para a história da arte portuguesa. Ocultação, como o nome indica, quer dizer ocultar, tapar, esconder e é disso que se trata: uma imagem que é parcialmente encoberta com tinta preta e que assim se transforma numa outra imagem, a suscitar diferentes leituras com outros sentidos poéticos. A técnica, é preciso dizê-lo, foi introduzida por O´Neill.
Mais tarde, Azevedo adere ao abstracionismo e é também responsável pela divulgação dessa nova linguagem pictórica em Portugal.
Quando não estava a pintar, Fernando de Azevedo organizava exposições ou escrevia sobre pintura. Dirigiu e colaborou em revistas da especialidade, redigiu muitos prefácios de catálogos de jovens artistas, como foram os casos de Júlio Pomar, Graça Morais, Maria Helena Vieira da Silva, Almada Negreiros; novas gerações que entendeu sempre apoiar e ajudar como se de uma missão se tratasse.
Durante seis décadas este pintor português produziu uma vasta obra devidamente premiada. Recebeu, entre outros, o 1.º Prémio de Pintura de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, o Prémio Consagração Amadeo Souza-Cardoso e a condecoração atribuída pelo Presidente da República Mário Soares com o Grau de Grande Oficial da Ordem do Infante. Vamos conhecê-lo.
Ficha Técnica
- Título: Grandes Quadros Portugueses
- Tipologia: Extrato de Programa
- Produção: Companhia de Ideias
- Ano: 2012