Gil Eanes dobra o cabo Bojador
Nas viagens para descobrir a costa ocidental africana os marinheiros enfrentaram lendas fabulosas e um mar tenebroso. Acreditavam que o Bojador era o fim do mundo. Mas o infante D. Henrique estava convencido do contrário e Gil Eanes dobrou a barreira do medo, em 1434.
Gil Eanes nasceu em Lagos e habituou-se a ver o mar e a navegar nele. Estava longe de saber que um dia teria ousadia para desafiar medos e ficar na história dos Descobrimentos. Sendo navegador da Casa do Infante, em 1433 recebeu de D. Henrique a capitania de uma barca com o objetivo de dobrar o cabo que marcava o limite conhecido da costa ocidental africana. Partiu, chegou às ilhas Canárias onde fez alguns cativos, e regressou ao reino sem alcançar o Bojador, o grande obstáculo da navegação para sul.
Com o conhecimento, os meios e os instrumentos disponíveis na altura, a tarefa não seria assim tão simples: o cabo, rodeado de recifes e envolto quase sempre em nevoeiro, parecia aos olhos dos navegadores, quer cristãos quer muçulmanos, intransponível. O mundo conhecido acabava ali, naquelas águas ferventes habitadas por monstros marinhos, como rezavam as lendas. Muitos marinheiros arriscaram a perigosa viagem e falharam sempre. Diz-nos o historiador Damião Peres, com base numa carta régia do século XV, que ter-se-iam realizado 15 tentativas em 12 anos, nenhuma capaz de vencer o Bojador. Até 1434.
O infante D. Henrique estava convencido que o mundo não acabava ali e incitou Gil Eanes a fazer-se de novo ao mar . “Daquela viagem – escreve o cronista Gomes Eanes de Zurara – menosprezando todo o perigo, dobrou o cabo a além, onde achou as cousas muito pelo contrário do que ele e os outros até ali presumiam”. O escudeiro do infante dobrou o cabo e navegou algumas milhas além do Bojador, até angra dos Ruivos, comprovando a teoria do terceiro filho do rei de Portugal. Ao invés de monstros encontrou uma terra desolada e deserta e, como prova de que ali tinha chegado, colheu algumas rosas silvestres que trouxe consigo, as rosas de Santa Maria.
Esta boa nova permitiu que os portugueses continuassem a escrever a epopeia dos descobrimentos marítimos. Um ano depois, Gil Eanes e Afonso Gonçalves Baldaia navegaram mais para sul, passaram o trópico de Câncer e chegaram ao que se presumia ser o rio do Ouro. Todos os detalhes das viagens eram devidamente anotados, o que se via dia e noite era informação vital para guiar futuros navegadores nos ventos e correntes dos novos mares. Ainda hoje os registos dos pilotos do século XV são uma referência no mundo.
Ficha Técnica
- Título: Na rota do Oriente - A Barreira do Medo
- Tipologia: Extrato de documentário
- Autoria: Luc Cuyvers
- Produção: Mare Nostrum
- Ano: 1998