Levantamento militar nas Caldas da Rainha

Na madrugada de 16 de março de 1974, uma coluna de cerca de duas centenas de soldados comandada pelo major Armando Ramos saiu do Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha, e tomou a estrada a caminho de Lisboa. O seu objetivo era derrubar o governo de Marcello Caetano, para o qual esperava o apoio de outras forças militares, nomeadamente de Lamego, Mafra e Vendas Novas.

A marcha prosseguiu até às portas da capital, quando foram informados de que nenhuma daquelas unidades tinha iniciado qualquer movimentação. Perante este cenário, foi decidido abortar o golpe e regressar ao quartel. Foi só depois de chegarem às Caldas que foram cercados pelas forças fiéis ao regime, vindas de Leiria e de Santarém. Pelas 5 da tarde, e após várias horas de negociações, os revoltosos renderam-se.

Os participantes na movimentação foram detidos e levados para a Trafaria, enquanto outros elementos do regimento foram transferidos para outras unidades militares. Chegava assim ao fim a insurreição que ficou conhecida como “levantamento” ou “intentona das Caldas”.

 

  • Quais foram as motivações do levantamento?

Existia um crescente mal-estar nas forças armadas e na população portuguesa causado pelo arrastamento da guerra em África, que durava há mais de uma década e sem fim à vista. O mal-estar era agravado pela frustração das expectativas reformistas em torno do primeiro-ministro Marcello Caetano. Crescia, portanto, a convicção de que o regime era incapaz de se renovar.

Existia no interior das forças armadas um movimento organizado de oposição, constituído sobretudo por capitães e majores, que preparava o derrube do governo. A 5 de março de 1974, este movimento emitiu um documento onde esta opção era claramente assumida.

Nove dias depois, a 14 de março, o governo demitiu os generais António de Spínola e Costa Gomes, que chefiavam o Estado Maior General das Forças Armadas, por não terem comparecido a uma convocação das lideranças militares.

Aparentemente, foram estas demissões que precipitaram os acontecimentos e levaram o movimento dos capitães a desencadear de imediato uma ação militar contra o regime, que teve lugar dois dias depois, a 16 de março.

 

  • Que importância teve esta revolta?

O “levantamento das Caldas” foi uma espécie de teste e de prenúncio da insurreição vitoriosa do 25 de abril, ao colocar em marcha um processo de revolta que o regime se mostrou incapaz de conter. Ironicamente, o fracasso do 16 de março acabou por funcionar a favor do movimento dos capitães, uma vez que parece ter criado um sentimento de falsa segurança a Marcello Caetano e convencido as forças do regime de que o assunto estava sanado.

No rescaldo do levantamento, o primeiro-ministro falou no assunto na televisão, remodelou o governo e fez uma aparição pública num jogo entre Sporting e Benfica, numa demonstração de confiança.

Na sombra, porém, o movimento dos capitães reconstituiu-se rapidamente e aprendeu a lição do fracasso do 16 de março, apurando a organização e o planeamento de um novo golpe, desta vez sem precipitações ou desarticulação entre as unidades envolvidas.

A 24 de março, a sua comissão coordenadora reuniu-se pela última vez e tomou a decisão final de avançar para o derrube do regime, o que veio a ocorrer daí a um mês, mais precisamente na noite de 24 de abril de 1974.

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Ficha Técnica

  • Título: Os Dias da História - Levantamento militar nas Caldas da Rainha
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paulo Sousa Pinto
  • Produção: Antena 2
  • Ano: 2018
  • Fotografia: Título do Diário de Lisboa, 16 de março de 1974