O admirável mundo novo do fonógrafo

Antes das icónicas jukeboxes tocarem e de os gira-discos girarem, o processo de agarrar e de prender o som foi uma longa história de engenhosos mecanismos com tambores, agulhas e cilindros, rolos desdobráveis, cartões perfurados e grandes discos metálicos. No entanto, é importante que se faça justiça ao pioneiro fonógrafo, invento de Thomas Edison que surgiu em 1877. Pela primeira vez as palavras podiam ser gravadas e escutadas em qualquer tempo e lugar. Parecia magia, mas era só tecnologia a funcionar. E as aplicações que vai ter estão no Museu de Música Mecânica que visitamos aqui.

Em finais do século XIX, poucos humanos estariam preparados para escutar outra voz humana a sair por um funil metálico de uma maquineta. Atribuíram-se poderes mágicos ao invento de Thomas Edison, mas o fenómeno do fonógrafo precisou de apresentações públicas para ser entendido. Em Portugal, as curtas sessões eram anunciadas como se fossem um número de alta magia. E, embora o aparelho fosse explicado pela ciência, o momento tinha alguma coisa de sobrenatural. Pela primeira vez ouvia-se alguém que não estava fisicamente presente, uma voz distante que se podia fazer transportar no espaço e no tempo. O processo mecânico que tal permitia e hoje parece simples, envolve um diafragma e uma agulha a perfurar um cilindro de cera ou a reproduzir os sons gravados nesse cilindro, amplificados no cone de metal.

 

Depois do fonógrafo de cilindros o mundo dos sons nunca mais foi o mesmo. A máquina popularizou-se, aperfeiçoou-se; o invento americano desdobrou-se em múltiplas versões melhoradas pelos irmãos Bell. A tecnologia evoluiu, as funcionalidades dos novos aparelhos também. Os gramofones de Emil Berliner são disso bom exemplo porque, além de darem outro balanço à música com os seus discos gravados, serviam ainda para aprender línguas, enviar postais falados e até para gravar mensagens nos escritórios: falava-se para um tubo, ouvia-se a gravação com auscultadores gigantes, maiores do que os originais estetoscópios da medicina. E, para quem não podia adquirir estes equipamentos, adaptaram-se os gramofones aos espaços públicos: bastava uma moedinha para os ouvir tocar.  

 
 
 
 
 
 

Estamos a entrar no século XX, as gravações em cilindros e em discos começam a ter cada vez mais qualidade e a música passa a ser tratada como uma mercadoria com valor de troca. O negócio implica uma indústria de produção pesada, que não existia em Portugal e, por isso os discos de artistas portugueses eram, nesta fase, mandados imprimir no estrangeiro. O novo negócio, sabemos, fez sucesso. Agora era possível ter em casa ou levar para o piquenique uma orquestra particular, com cantores favoritos, vozes míticas a declamar poesia, clássicos do mundo inteiro, um fado à moda da nossa terra, ou ainda os principais êxitos do teatro de revista.

O que quer que tocasse nesta playlist de fonógrafos e gramofones, estava muito distante da primeira caixa de música de Antoine Favre, invenção de 1776. É para este mundo que somos transportamos agora, por entre peças raras que fazem parte da coleção particular de Luís Cangueiro, transformada em Museu da Música Mecânica. Uma surpreendente viagem ao passado dos sons.

Museu da Música Portuguesa, em Cascais
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Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada - Museu da Música Mecânica
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP2
  • Ano: 2017