O fim da “Monarquia do Norte”

Foi a 13 de fevereiro de 1919 que um contingente da Guarda Nacional Republicana do Porto, com o apoio de milícias civis organizadas pelo Partido Democrático, obteve a rendição da junta governativa revoltosa que então existia na cidade. Chegava deste modo ao fim a chamada “Monarquia do Norte”.

A “Monarquia do Norte” foi o nome dado à insurreição militar que a 19 de janeiro de 1919 tinha proclamado a restauração da monarquia no Porto e que alastrou a várias cidades do norte de Portugal.

A revolta foi liderada por Paiva Couceiro, que detinha grande prestígio nos círculos militares e que já se havia distinguido, primeiro na defesa do regime monárquico e posteriormente em diversas conspirações contra a República.

Foi Paiva Couceiro quem presidiu à junta governativa do Porto e apelou à insurreição geral do país contra o regime republicano. A restauração monárquica, contudo, não obteve a adesão esperada e os vários focos da revolta, como Lamego, Estarreja ou Viana do Castelo foram sucessivamente vencidos por forças fiéis à República, até restar apenas a cidade do Porto, que finalmente caiu no dia 13 de fevereiro.

 

  • Como se explica a revolta?

O conflito entre o regime republicano e os partidários da monarquia deposta em 1910 tornou-se mais aceso com o agravamento da crise económica e social decorrente da participação de Portugal na I Grande Guerra. Em particular, a experiência semi-ditatorial de Sidónio Pais, em 1917, tinha aumentado a discórdia entre as várias fações do regime e dado um novo alento aos núcleos políticos mais conservadores e que eram claramente simpatizantes da causa monárquica.

Existia um clima de pré-insurreição em diversos setores militares e o próprio campo republicano estava dividido. De um lado, estava o governo e os defensores do modelo presidencialista de Sidónio Pais, a que se opunham os partidos republicanos tradicionais que exigiam o regresso ao modelo parlamentar dos primeiros anos da República.

A proclamação de “Monarquia do Norte” foi o culminar de vários meses de crise política e de movimentações militares e tentativas de revolta, por parte de setores e grupos diversos.

 

  • O que aconteceu depois?

A derrota da “Monarquia do Norte” assinalou o fim das tentativas de restauração da monarquia pela via militar. Paiva Couceiro, a figura eminente do movimento monárquico, não tinha conseguido, ao longo de quase uma década, reunir os apoios necessários para derrubar a República.

A principal falha da sua causa foi a falta de apoio do próprio rei deposto, D. Manuel II, exilado em Inglaterra e que nunca sancionou qualquer tentativa de restaurar a monarquia pela força das armas. Esta posição foi, portanto, um fator de enfraquecimento e de divisão dos setores monárquicos.

O fim da “Monarquia do Norte” assinalou igualmente a derrota dos setores sidonistas e o regresso das lutas entre os partidos republicanos tradicionais. Os anos seguintes foram marcados por uma extrema instabilidade política, com a rápida sucessão de governos, por vezes vários no espaço de um ano, e repetidos atos eleitorais.

Foi esta instabilidade que acabou por conduzir ao golpe militar de 28 de maio de 1926 assinalando o regresso ao poder dos setores monárquicos e conservadores, que teve a sua expressão mais evidente na ascensão de António de Oliveira Salazar.

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Ficha Técnica

  • Título: Os Dias da História - Fim da “Monarquia do Norte”
  • Tipologia: Programa
  • Autoria: Paulo Sousa Pinto
  • Produção: Antena 2
  • Ano: 2018
  • Fotografia: Henrique Paiva Couceiro, autor desconhecido