O que faz de Ruy Belo um poeta singular
Longos versos, versos livres, quase sem pontuação. Onde cabem sentimentos de um homem desencontrado de Deus. Onde partilha dúvidas sobre o tempo, o envelhecimento, a morte. O que de mais há de transcendente e irrepetível em Ruy Belo está condensado neste livro que Luís Adriano Carlos prefaciou.
Os poemas deste livro, o penúltimo, podem ser lidos como se fossem uma despedida ou uma premonição. Ruy Belo publicou-os em 1976, dois anos antes de morrer. O tema perseguia-o, assombrava-o, e aqui volta a ser chamado para dizer da humana condição de regressar ao chão da terra.
A voz poética, melancólica, regista a passagem do tempo a trabalhar dentro de si, experimenta a consciência da sepultura, apesar dos seus poucos 40 anos. Ele que se declarara um dos vencidos do catolicismo, que perdera deus e a esperança, fazia agora versos ainda mais longos para neles caberem mais sentimento, pensamento, emoção.
Para nascer, pouca terra; para morrer, toda a terra. A passagem de Padre António Vieira abre este livro que significava morte para o seu autor. Chamou-lhe “Toda a Terra”, assim, sem vacilar. Nas palavras de Luís Adriano Carlos, prefaciador da nova edição, o poeta condensa nestes versos todos os mecanismos poéticos utlizados desde “Aquele Grande Rio Eufrates”, a sua estreia, em 1961. A escrita para Ruy Belo, sublinha, é de essência estética e testamentária. Coesa como uma fortaleza, acrescentamos.
Temas
Ficha Técnica
- Título: Nada Será Como Dante
- Tipologia: Extrato de Magazine Cultural - Reportagem
- Produção: até ao Fim do Mundo
- Ano: 2023