O que têm os romances de Charles Dickens?

Sem exceção, todos os romances do genial autor inglês garantem enredos complexos e personagens icónicas que fazem rir até às lágrimas ou provocam arrepios na espinha. Sátiras com lições de moral, histórias melodramáticas e rocambolescas, como a realidade que se vivia na Inglaterra no século XIX. Porque a ficção de Charles Dickens não é totalmente ficção. É um jogo entre a imaginação e a denúncia do lado mais negro da era vitoriana. Retratos amargos, construídos a partir da própria vida. De Oliver Twist a Little Dorrit, passando por David Copperfield, muitas páginas que escreveu foram inspiradas nos tempos difíceis da infância.

Charles Dickens conhecia a miséria. A primeira vez que a olhou de perto estava a sair da idade da infância, o pai preso por dívidas, ele a trabalhar numa fábrica, a colar rótulos em caixas de graxa, dez horas por dia a seis xelins. Conviveu com uma Londres impiedosa, sórdida e insalubre, onde as classes baixas viviam sem condições, sem instrução ou vislumbre de justiça. Uma realidade sombria para o futuro romancista denunciar.

Logo nas primeiras histórias, o jovem Dickens recorre a uma sátira aguçada para retratar com detalhe a sociedade inglesa oitocentista, servida por gente gananciosa, sem escrúpulos, que explora operários, protege ricos e atira órfãos para asilos tenebrosos.

Os enredos complexos, sentimentalistas ou excessivamente rocambolescos, antes de serem editados em livros, são primeiro publicados em jornais e revistas, como uma novela que, capítulo a capítulo, prende leitores ao engenhoso universo dickensiano, com as suas personagens trágicas, comoventes, cómicas e grotescas. Testemunhos de uma Inglaterra em desenvolvimento industrial que contêm ainda informações preciosas sobre a sua vida passada, uma espécie de roteiro autobiográfico que, subtilmente, transporta para uma obra única da literatura inglesa que lhe dará fama universal.

Em Little Dorrit – A Pequena Dorrit – temos o exemplo de um romance inspirado na experiência da infância e nos tempos difíceis da era vitoriana. Lançada em fascículos, entre 1855 e 1857, a história de Amy havia de arrancar lágrimas e divertir o seu público, de transmitir os valores humanistas que o genial escritor inglês nunca deixou de defender. Algumas frases tornaram-se célebres, verdadeiros aforismos que ficaram para a posteridade. Aqui deixamos uma, retirada desta obra: “Todo o fracasso ensina algo a um Homem se ele aprender”. Das mais de 900 personagens criadas por Dickens quem a terá dito? A resposta vem na história da peça que temos aqui.

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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante - Charles Dickens
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2020