Oscar Wilde e o polémico Retrato de Dorian Gray

O único romance de Oscar Wilde escandalizou a Inglaterra do século XIX. A história de um homem obcecado em manter-se jovem para sempre e do quadro que o desfigura, registando cada um dos seus pensamentos e crimes, foi considerado impuro, venenoso, desagradável, nauseante. Incomodava a facilidade com que Dorian Gray abdicava da alma em troca da beleza, mas o que verdadeiramente chocava a sociedade estava nas referências homossexuais. Nunca uma ficção em língua inglesa fora tão longe, ao sugerir o desejo e o amor entre homens. O escritor irlandês desafiava a moral vitoriana e o Retrato seria usado para o condenar.

A primeira história do jovem que não envelhece e do quadro que é a imagem da sua consciência apareceu em 1890 na Lippincott´s, uma revista de Filadélfia. O conto não escandalizou os leitores americanos, mas os críticos ingleses reagiram com fúria ao texto de Oscar Wilde. Em vez de se deixar intimidar, o escritor irlandês tinha o plano de publicar um romance. Seis capítulos e um prefácio brilhante depois, a ficção estava concluída para agitar a sociedade vitoriana.

Logo na abertura eram ultrapassados os limites da decência, com alusões veladas à paixão do pintor Basil Hallward pelo seu modelo. Embora o desejo entre homens não fosse tema central do livro, a punição de Wilde começava e acabava aqui. Suportavam-lhe as poses extravagantes de príncipe do renascimento, não toleravam que falasse abertamente sobre o que devia ser mantido em segredo.

Mais tarde ver-se-ia condenado a três anos de prisão por envolvimento com pessoas do mesmo sexo e o “Retrato de Dorian Gray” apresentado em julgamento como prova da sua conduta imprópria. No entanto, o que a uns inspirou repulsa, a outros causa admiração. O livro que Wilde escreveu no século XIX sobre os perigos da futilidade e da beleza sem consciência, da subordinação da vida a um ideal estético, simboliza hoje a luta de um homem pela sua sexualidade e pelo direito de a poder expressar livremente.

Oscar Wilde não escrevia para moralizar, para insinuar o que os leitores deviam pensar ou sentir. Provocante, desafiante, defendia no prefácio de Dorian Gray que o artista pode exprimir tudo. Assim o fez, e pagou por isso. No fim da história, quando a comunidade gay fez dele uma lenda, saiu vencedor.

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Ficha Técnica

  • Título: Nada Será Como Dante - Oscar Wilde
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural - Reportagem
  • Produção: até ao Fim do Mundo
  • Ano: 2020