Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda

Pavilhão Panóptico: quando a arquitetura serve para vigiar

A enfermaria-prisão do Hospital Miguel Bombarda é exemplar raro do modelo arquitetónico de Jeremy Bentham, filósofo inglês do século XVIII. A ideia de criar edifícios circulares, onde seres humanos pudessem ser constantemente vigiados tinha o propósito de reabilitar e disciplinar populações perigosas. Utilizado com sucesso em muitos países, o panóptico acabou por chegar a Portugal. Mas, tendo em conta o risco e o sofrimento dos doentes psiquiátricos que iam viver neste pavilhão, o estilo adotado foi mais suave, o que lhe deu um ar moderno antes de tempo.

O cenário é redondo, fechado sobre si mesmo. A arquitetura da vigilância abre portas a outro mundo no Pavilhão de Segurança do antigo Hospital de Rilhafoles. Parece que o tempo parou dentro da estrutura panóptica. Contudo, o novo edifício encomendado por Miguel Bombarda e inaugurado em 1896 não é um exemplar perfeito do modelo de Jeremy Bentham, antes uma variação pensada e concebida pelo médico psiquiatra e pelo arquiteto José Maria Nepomuceno para este espaço especial, destinado a receber doentes mentais criminosos, os condenados inimputáveis.

A construção térrea e circular, com pequenas celas voltadas para um pátio, dispensava grades nas janelas e arestas nas paredes de forma a proteger os doentes de prováveis ferimentos ou tentativas de suicídio. Ao centro, havia uma torre a supervisionar os movimentos dos loucos alienados” ao ar livre, onde passassem maior parte do tempo para evitar a disseminação de doenças contagiosas, melhorar a saúde mental e mudar comportamentos, como Miguel Bombarda, precursor da terapia ocupacional, defendia. 

Torre de Vigilância do Pavilhão de Segurança, 1899

Da pequena torre resta a fotografia. A função de vigiar passou depois a ser exercida por um só guarda, capaz de ver tudo e todos a partir de qualquer ponto do pátio da enfermaria, o lugar mais isolado da instituição dirigida por Miguel Bombarda, desde 1892.  

Antes deste hospital psiquiátrico existir, o primeiro em Portugal, os doentes estavam em sítios malditos, mantidos em condições degradantes, escondidos em cocheiras e cubículos, amontoados em asilos e, mais tarde, numa espécie de arrecadação no Hospital de São José. Eram loucos, alienados, perigosos e vítimas do preconceito de uma sociedade que não os via como seres humanos. Desde então muito mudou. Os doentes mentais já não são malucos nem os hospitais psiquiátricos, manicómios ou hospícios.  

No Pavilhão de Segurança do Miguel Bombarda ainda se ouvem passos em volta do pátio. Estão de passagem na enfermaria-prisão agora transformada em museu. Como o círculo panóptico, as histórias que aqui se contam, parecem não ter princípio nem fim.  

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Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada - Hospital Pisquiátrico Miguel Bombarda, Lisboa
  • Tipologia: Excertos de Programa de Cultura Geral
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2015