Baixa Pombalina, o plano que reinventou Lisboa

Baixa Pombalina, o plano que reinventou Lisboa

Depois do devastador terramoto de 1755, que arrasou grande parte de Lisboa e impressionou toda a Europa, começou a desenhar-se uma cidade nova, projetada de acordo com as modernas correntes iluministas. Não se tratava apenas de reconstruir, mas de renovar e reinventar a capital de um império. O plano escolhido para a baixa da cidade revelava o espírito vanguardista de um homem, o futuro Marquês de Pombal.

O que aconteceu naquele primeiro dia de novembro iria mudar Lisboa para sempre. Um longo sismo seguido de um maremoto e de diversos incêndios devastou o centro da cidade medieval. Perante tamanho desastre era forçoso tomar decisões, reagir de forma rápida e eficaz. A resposta veio pronta do homem forte de D. José I, futuro Marquês de Pombal. Antes dos planos de reconstrução, mandou Sebastião José de Carvalho e Melo “cuidar dos vivos e enterrar os mortos” para evitar epidemias, distribuir alimentos, prender e enforcar ladrões e criminosos, demolir o que restava das ruínas, limpar as ruas dos entulhos. Depois, pensar uma cidade nova.

O ministro do rei encomendou planos, estudou as opções de Manuel da Maia, engenheiro-mor responsável pela obra do Aqueduto. Escolheu o mais radical e meticuloso, um plano urbanístico e arquitetónico sem precedentes, explica a professora Ana Tostões. Pombal reconstruía a capital do reino, ao mesmo tempo mudava uma sociedade inteira e consolidava o seu poder. 

Antes de começar a construir, era necessário demolir o que o terramoto não deitara por terra. Muito mais do que ficara perdido,  cerca de 70% dos edifícios da cidade velha seriam sacrificados a este projeto de traçado inovador, geométrico e racionalista, com ruas largas, alinhadas e quarteirões homogéneos, prédios de fachadas simples a repetirem uma “harmonia de proporções”. A nova urbe dos arquitetos Eugénio dos Santos e Carlos Mardel solucionava os problemas de salubridade e circulação de uma Lisboa que “crescera mal”, evidentes desde o século XVI. Em apenas três anos, o plano ficou pronto e as obras começaram. Para o antigo Terreiro estava projetada uma monumental praça, aberta ao Tejo, digna da capital de um império. O cenário perfeito para o jovem ministro afirmar o seu plano reformista. Palácios e igrejas foram expulsos da nova Praça do Comércio, sinal do que viria a seguir.

No pós-terramoto, Sebastião José, com todos os poderes que o rei lhe concedera, provocou outro abalo na sociedade portuguesa. Nobreza e Clero seriam submetidos a um plano político reformista que visava o fim dos privilégios feudais e o afastamento da igreja. Fizeram-se expropriações, os templos perderam destaque na paisagem, passando a estra integrados no quarteirão, colados a outros edifícios, todos eles disciplinados pela régua e esquadro do plano de reconstrução. A arquitetura imprimia assim uma nova dinâmica urbana e social: ao mesmo tempo que ordenava a malha da cidade, nivelava classes. Os nobres foram convidados a investir, mas as oportunidades de negócio seriam aproveitadas por uma burguesia emergente, apoiada nas suas ambições por Pombal. Nada restava do passado na Lisboa que se erguia dos escombros. Só o medo dos sobreviventes que não queriam voltar à cidade. Nem o rei se deixou convencer pela engenhosa construção em gaiola ou pelas paredes sólidas das novas casas.  

Pela primeira vez o espaço público era pensado e organizado por arquitetos. Para este novo cenário que iria nascer em cima de uma cidade destruída estava também projetado um jardim aberto ao público, o primeiro em todo o mundo. Seria necessário esperar algumas décadas para os passeios começarem, mas a meio do século das Luzes, esta planta anunciava uma nova relação entre a cidade e os seus habitantes. Pioneira, sublinha a professora Ana Tostões que destaca ainda a intervenção feita no velho Rossio, uma praça nevrálgica agora ligada ao antigo Terreiro, já sem Paço, mas que continuava a ser a sede do poder político e financeiro.  

A Lisboa que renascia do terramoto era a cidade de Pombal, o hábil ministro que soubera aproveitar a grande calamidade para reforçar o seu poder, eliminando qualquer tentativa de oposição. Afinal, não era apenas uma nova cidade que emergia de 1755 era também um novo regime que passaria a controlar o país inteiro, o Pombalismo.  

A governação do Marquês de Pombal e a reconstrução de Lisboa
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A governação do Marquês de Pombal e a reconstrução de Lisboa

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Ficha Técnica

  • Título: Visita Guiada -Baixa Pombalina
  • Tipologia: Extrato de Programa Cultural
  • Autoria: Paula Moura Pinheiro
  • Produção: RTP
  • Ano: 2021