“Romance do Terceiro Oficial de Finanças”, de Manuel da Fonseca
Começou por escrever poesia e estes versos estão no seu segundo livro publicado em 1941. Chamou-lhe Planície, a grande e mítica planície alentejana da infância que Manuel da Fonseca recordou em palavras simples e comoventes nos poemas, contos e romances, obra exemplar do neorrealismo português. Aqui apresentamos "Romance do Terceiro Oficial de Finanças" no modo único de dizer da atriz Maria do Céu Guerra.
ROMANCE DO TERCEIRO OFICIAL DE FINANÇAS
Ah! as coisas incríveis que eu te contava
assim misturadas com luas e estrelas
e a voz vagarosa como o andar da noite!
As coisas incríveis que eu te contava
e me deixavam hirto de surpresa
na solidão da vila quieta!…
Que eu vinha alta noite
como quem vem de longe
e sabe o segredo dos grandes silêncios
– os meus braços no jeito de pedir
e os meus olhos pedindo
o corpo que tu mal debruçavas da varanda!…
(As coisas incríveis eu só as contava
depois de as ouvir do teu corpo, da noite
e da estrela, por cima dos teus cabelos.
Aquela estrela que parecia de propósito para enfeitar os teus cabelos
quando eu ia namorar-te…)
Mas tudo isso, que era tudo para nós,
não era nada da vida!…
Da vida é isto que a vida faz.
Ah! sim, isto que a vida faz!…
– isto de tu seres a esposa séria e triste
de um terceiro-oficial de finanças da Câmara Municipal!…
Planície, 1941. Manuel da Fonseca
Temas
Ficha Técnica
- Título: Desassossegos - Poema de Manuel da Fonseca
- Tipologia: Programa de Poesia
- Autoria: Sinde Filipe
- Produção: Vídeo CineGrupo 7 para RTP
- Ano: 1999