Vhils, o artista que veio do graffiti
Juntou cinco letras ao acaso e criou uma assinatura inconfundível na arte urbana. Vhils é sinónimo de intervenção e rebeldia, mas também de humanização da cidade. Onde há esquecimento e degradação, o artista estimula a reflexão com os seus retratos esculpidos nas paredes velhas. Que histórias contam estes enormes rostos anónimos que nos olham e interrogam? Sempre a partir do caos e da destruição, Alexandre Farto foi desenvolvendo outras técnicas, estéticas e linguagens inovadoras. O rapaz que começou no graffiti com uma lata de spray, é hoje autor reconhecido em todo o mundo. É ele que nos fala dele no Contentor 13.
A pulsão de intervir no espaço público dava os primeiros sinais quando começou a grafitar. Alexandre Farto ainda não sonhava ser artista nem pensava no futuro, tinha 13 anos e bastava-lhe uma lata de spray para ser feliz a pintar paredes e carruagens de comboios. Foi a primeira escola feita nas ruas da margem sul, onde vivia e se apercebia da existência efémera das coisas. Eram os murais do pós-25 de Abril a desaparecer, a propaganda política e os cartazes publicitários que se esboroavam com a passagem do tempo. Restos de memórias esquecidas que mais tarde havia de recuperar como telas.
Depois veio a vontade de inovar, de experimentar outros suportes e outros materiais, de radicalizar a intervenção na paisagem urbana, sobretudo nos lugares sem história. No início, munido de martelo e escopro, como um arqueólogo à procura de vestígios do passado, o artista retirava camadas das paredes degradadas, abandonadas nas fachadas devolutas, até encontrar os rostos invisíveis dos habitantes de uma cidade desconhecida.
Os retratos de grandes dimensões revelaram o que a galerista Vera Cortês há muito tinha percebido quando o convidou para a sua galeria. Vhils tinha apenas 17 anos e mostrava já um grande potencial, um artista obstinado e com muita habilidade, recorda neste programa o crítico de arte João Pinharanda. Em 2008, o projeto “Scratching the Surface” (arranhando a superfície) começou a ser replicado em dezenas de países, transformando-se na imagem icónica do seu trabalho.
Seja a esculpir paredes de cimento, portas de madeira, esferovite, gesso ou cartão cartonado, a gravar placas de metal com ácido, a provocar explosões pirotécnicas em emblemáticas exposições, Alexandre Farto diz que o seu processo criativo implica sempre caos e destruição. O objetivo é transformar, reinventar, fazer emergir arte que – mesmo que não perdure – provoque, inquiete, acrescente novos sentidos à cidade. Contra a desumanização dos lugares, apresenta-se o artista que todos conhecemos como Vhils, as cinco letras que mais gostava de juntar.