A expansão das ideias comunistas na Europa
A revolução soviética fomentou a agitação revolucionária em diversos países europeus e a criação de partidos comunistas. Estes partidos exerceram uma forte atração junto do operariado, mas a sua base eleitoral era mais alargada. O receio da agitação, as consequências da crise económica e a perceção da paralisação das democracias parlamentares, levaram ainda à ascensão de movimentos de extrema-direita, que atraíram militares, estudantes, mas também a classe média, os grandes proprietários e os industriais.
A revolução bolchevique propaga-se à Europa
A revolução bolchevique, que teve lugar na Rússia, em 1917, teve um forte impacto em toda a Europa no final da Grande Guerra. Face à crise generalizada do pós-guerra, a tensão social cresceu, o número de greves aumentou e a violência tornou-se omnipresente nas cidades e nas áreas rurais. No entanto, perante as crescentes reivindicações por parte dos trabalhadores, os governos recusaram-se a fazer concessões.
As massas, cansadas da guerra, da inflação e da desvalorização monetária, que conduziram à fome, estavam abertas ao apelo revolucionário. Nas cidades, os operários procederam à ocupação de fábricas e as lojas foram pilhadas por multidões esfomeadas. No mundo rural, os camponeses entraram em greve e ocuparam os latifúndios. Em 1919 e 1920 o dia 1.º de Maio foi comemorado com manifestações nas ruas, que foram duramente reprimidas pelas forças da ordem.
Para o operariado, o exemplo russo constituía uma janela de esperança num contexto marcado pela opressão e pela fome. Viam na Rússia um exemplo a imitar, até porque o comunismo oferecia uma alternativa à democracia liberal e ao capitalismo. Em vários países foram fundados partidos comunistas e, em março de 1919, foi criada a III Internacional, que encorajou a agitação revolucionária em todo o mundo.
Esta vaga revolucionária pôs em causa a ordem social estabelecida, a propriedade, os regimes políticos vigentes e, por isso, assustou a opinião pública.
Ao novo governo bolchevique, que tivera dificuldade em conseguir obter o reconhecimento internacional das outras potências, interessava instaurar governos comunistas noutros países. A Rússia enfrentava uma guerra civil e estava internacionalmente isolada, pelo que precisava de aliados.
O movimento revolucionário nem sempre conseguiu conquistar o poder, mas nos países derrotados da Grande Guerra os governos demonstraram uma enorme dificuldade em conter a agitação. Na Alemanha, estabeleceram-se sovietes de soldados e marinheiros. Em Berlim, em 1919, tiveram início as jornadas revolucionárias. No sul do país, no Estado da Baviera, foi instaurada uma república dos conselhos. Na Hungria, foi instaurado um governo comunista, liderado por Béla Kun. Esta vaga revolucionária pôs em causa a ordem social estabelecida, a propriedade, os regimes políticos vigentes e, por isso, assustou a opinião pública.
Os movimentos de extrema-direita e a sua base social de apoio
Os governos e as classes dirigentes temiam a ameaça da subversão. Por isso contra-atacaram, esmagando os revolucionários e, pouco a pouco, conseguiram repor a ordem.
Os proprietários e a classe média temiam a revolução e rapidamente se tornaram permeáveis aos movimentos que prometiam ordem política, estabilidade económica e o fim da agitação social. Em toda a Europa surgiram movimentos paramilitares, que atraíam antigos combatentes e estudantes. Opunham-se à democracia parlamentar, eram ultranacionalistas e glorificavam a guerra e a violência.
A crise do Estado liberal, o impacto da guerra e o medo da ameaça comunista foram fatores de sucesso para a extrema-direita. Em 1922, Benito Mussolini chegou ao poder em Itália, transformando-se num modelo a seguir, incluindo para a própria Alemanha.
Estes movimentos veiculavam uma mensagem que apelava à renovação nacional, com promessas muito vagas sobre um futuro nacional próspero. Apelavam aos interesses de diversos grupos sociais, que se sentiam ameaçados pela mudança. Os seus discursos eram suficientemente vagos para conseguirem ser apelativos para grupos sociais heterogéneos.
Atraíram também a classe média descontente, os trabalhadores de escritório, empresários, funcionários públicos, pequenos proprietários, agricultores ou estudantes. No entanto, não foi um movimento da classe média. Os regimes fascistas não teriam chegado ao poder sem o apoio das elites conservadoras, dos militares, das elites eclesiásticas, que temiam o radicalismo revolucionário dos partidos comunistas e do movimento operário, não acreditando mais na democracia parlamentar.
Síntese:
- As massas, cansadas da guerra, da inflação e da desvalorização monetária, que conduziram à fome, estavam abertas ao apelo revolucionário.
- O movimento revolucionário nem sempre conseguiu conquistar o poder.
- A crise do Estado liberal, o impacto da guerra e o medo da ameaça comunista foram fatores de sucesso para a extrema-direita.
- Os regimes fascistas não teriam chegado ao poder sem o apoio das elites conservadoras.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Relacionar as dificuldades económicas do após guerra e os efeitos da revolução soviética com o avanço da extrema-direita e dos partidos comunistas, identificando a base social de apoio de cada um.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/ Cláudia Ninhos
- Ano: 2021
- Imagem: Dirigentes comunistas europeus dos anos 20 do século passado: Béla Kun (Húngria), Jacques Sadoul (França), Leon Trotsky, Mikhail Frunze e Sergey Gusev (Rússia)