A guerra civil entre liberais e absolutistas
O liberalismo implantou-se em Portugal após uma guerra civil, entre 1832 e 1834. O Miguelismo, a partir de 1828, perseguiu de uma forma feroz as ideias liberais. Os defensores destes ideais emigraram para França e Inglaterra, dirigindo-se daí para a ilha Terceira nos Açores onde prepararam uma expedição para desembarcar e implantar o Liberalismo em Portugal pela força. A guerra entre liberais e absolutistas durou dois anos e só terminou em maio de 1834.
A instauração do liberalismo em Portugal foi conturbada e ao longo da década de 1820 existiu uma enorme disputa entre liberais radicais, liberais mais moderados e adeptos do absolutismo.
A família liberal dividia-se entre os apoiantes da Constituição de 1822, os vintistas, e os defensores da Carta Constitucional de 1826, os cartistas. Os absolutistas pretendiam o regresso puro e duro ao sistema tradicional de governo baseado no poder absoluto do rei e na sociedade de ordens.
Entre 1826 e 1828 esteve em vigor a Carta Constitucional. Fizeram-se eleições, nomearam-se pares do reino e, aparentemente, o país parecia caminhar para a institucionalização de uma Monarquia Constitucional. Porém, os adeptos do absolutismo não baixaram a guarda. D. Pedro IV ciente de que era necessário equilibrar as forças políticas em Portugal, propôs ao irmão D. Miguel o casamento com a sua filha, D. Maria da Glória, a favor da qual tinha abdicado do trono. Até a rainha atingir a maioridade e enquanto não se concretizasse o casamento D. Miguel deveria ser o regente de Portugal. Condição imposta: deveria aceitar a Carta Constitucional. D. Miguel, ausente em Viena, aceitou os pressupostos e regressou a Portugal em 1828.
Após a sua chegada D. Miguel rejeitou o compromisso assumido e, apoiando-se num pretenso apoio popular, proclamou-se rei absoluto ao reunir Cortes em Lisboa da forma tradicional: os três estados do reino. O argumento dos absolutistas era de que D. Miguel era o legítimo sucessor do trono, já que D. Pedro era um governante estrangeiro que tinha decidido tornar uma ex-colónia independente, no fundo tinha-se revoltando contra Portugal. Desta forma, tinha perdido a legitimidade.
Naturalmente, os liberais tentaram reagir em Portugal e logo promoveram um golpe militar no Porto: a Belfastada. O golpe foi prontamente controlado pelos miguelistas, os liberais fugiram para Espanha, alcançaram a costa galega e rumaram para o exílio a bordo do vapor Belfast.
O governo de D. Miguel perseguiu sem piedade os liberais a quem acusavam de pedreiros livres e de estarem a mando de elementos estrangeiros que pouco tinham a ver com o Portugal genuíno. Os liberais emigraram para França e Inglaterra, liderados pelo Duque de Palmela e pelo General Saldanha. Tiveram imensas dificuldades em obter apoios internacionais, principalmente em França onde o rei Carlos X se opunha aos liberas, favorecia a antiga aristocracia e defendia o direito divino dos reis. Os próprios liberais mostravam-se pouco coesos, pois as divergências entre radicais e moderados cedo se fizeram sentir.
Porém, a partir de 1830 o panorama alterou-se significativamente. Em França, naquele ano, houve a Revolução de julho que desalojou do trono Carlos X sendo substituído por Luís Filipe de Orleãs, um liberal que progressivamente apoiou a causa liberal portuguesa. Os liberais portugueses também colocaram as divergências de lado tendo encontrado um denominador comum: derrotar o miguelismo.
Os liberais portugueses recorrem também a D. Pedro que estava em dificuldades no Brasil por não conseguir apaziguar a família liberal brasileira. Deixou também o trono deste país sul-americano, em 1831, e vem para a Europa, reunindo-se aos liberais na ilha Terceira, nos Açores, proclamando-se regente de Portugal. Entretanto, D. Maria da Glória tinha sido enviada para Inglaterra onde devia, em conjunto com a elite liberal lusa aí destacada, promover a causa liberal portuguesa.
Após reunir os meios financeiros necessários D. Pedro preparou uma armada com apoio inglês e desembarcou na praia do Mindelo em 1832 com 7500 homens. O objetivo dos liberais era conquistar rapidamente o Porto, esperando ser recebidos de braços abertos como libertadores da tirania absolutista. Nada disto se passou e ficaram confinados naquela cidade onde foram alvo de um cerco desgastante.
Os liberais conseguiram furar o bloqueio ao desembarcar no Algarve com apoio inglês e marcharam sobre Lisboa, libertada a 24 de julho de 1833. As tropas miguelistas encaminham-se então para sul ao encontro dos liberais, dando-se algumas batalhas, sendo decisiva a da Asseiceira onde os pedristas derrotaram os miguelistas definitivamente. A guerra só terminou após a intervenção da quádrupla aliança (tratado conjunto entre Maria Cristina, regente de Espanha, D. Pedro, regente de Portugal, França e Inglaterra que determinava o apoio aos liberais ibéricos).
D. Miguel rendeu-se após assinar a convenção de Evoramonte em maio de 1834 e regressava ao exílio, primeiro para Génova, indo depois para a Grã-Bretanha e finalmente para a Alemanha. Os liberais conquistaram definitivamente o poder em Portugal e rapidamente entraram em divergência sobre o modelo político que se deveria seguir.
Síntese
- Após o vintismo, a reação absolutista em 1823/24 e a outorga da Carta Constitucional de 1826, seguiu-se o regresso ao absolutismo em 1828, com D. Miguel.
- O período miguelista foi caracterizado pela perseguição e prisão dos liberais.
- Alguns liberais emigraram para Inglaterra e França, dirigindo-se depois para a ilha Terceira.
- A força liberal estacionada nos Açores será liderada por D. Pedro e irá desembarcar no Mindelo em 1832, iniciando-se a guerra civil entre liberais e absolutistas.
Ficha Técnica
- Área Pedagógica: Integrar a guerra civil de 1832-1834 no contexto da difícil implantação do liberalismo em Portugal, nomeadamente perante a reação absolutista.
- Tipologia: Explicador
- Autoria: Associação dos Professores de História/Nuno Pousinho
- Ano: 2021
- Imagem: Batalha de Ponte Ferreira, 23 de Julho de 1832, A. E. Hoffman